Piedade do Paraopeba é um povoado do município de Brumadinho (MG), que teve início no final do século XVII, contando com a Igreja Matriz de Nossa senhora da Piedade, “os terrenos e edifícios  doados por Bento Rodrigues da Costa, em 27 de fevereiro de 1729, conforme consta em documento localizado no Arquivo Arquidiocesano, de Belo Horizonte. […] Em fins da década de 1950, em meio às reformas pelas quais passava a Matriz, foi encontrado sob seu piso de campas, um fragmento de viga com a inscrição MDCCXIII (1713), ano que passou a ser reconhecido pela população como o da construção da capela”.

Um povoado que é  repleto de memórias e um acervo histórico-cultural religioso, mas também é palco dos interesses de exploração minerária, no povoado toda essa riqueza histórica, cultural, ambiental e humana está em risco por ter no topo de uma de suas serras a temida Barragem de rejeitos da mineração Santa Bárbara, que integra o complexo minerário da Mina do Pau Branco, de responsabilidade da empresa Vallourec Mineração Ltda.

Hoje a população convive com o medo diante desse  possível rompimento de barragem, vez que desde julho, a mineradora apresentou novos levantamentos ambientais informando ainda que o nível de segurança da barragem passaria para o nível 1 de emergência – sendo a classificação de nível de 1 a 3, quanto maior mais eminente o risco do colapso da barragem.

Não bastando conviver com o medo de toda a destruição que um evento como esse pode causar ao  meio ambiente, aos bens materiais e em principalmente à vida, a comunidade sofre ainda perseguições e ameaças aos grupos de moradores que questionam, que lutam e que enfrentam a mineradora.

Um desses grupos comunitários, o SOS Barragem, criado após o desastre do crime da Vale S/A, quando em 25 de janeiro de 2019 rompeu a barragem na Mina do Córrego do Feijão, vários membros da comunidade se reuniram em 31 de janeiro de 2019, mesmo ainda abalados com o crime e pelo medo de um evento como esse se repetir, vez que a Barragem do complexo da Mina Pau Branco era tema preocupante.

Em julho de 2021, a comunidade passou a contar com o apoio do Projeto de Extensão “Ecologismo dos Pobres” da PUC Minas, e realizaram o “Webinário: Direitos humanos e Mineração no distrito de Piedade do Paraopeba, Brumadinho/MG”, mostrando relatos de moradores locais, bem como dados técnicos que contrapõe as informações da mineradora em reuniões realizadas junto à comunidade, existe também uma ação popular de moradores e defensores do meio ambiente reivindicando a descaracterização e descomissionamento da barragem e pedindo as garantias de direitos fundamentais dos afetados.

Como modus operandi das mineradoras, as retaliações e perseguições iniciaram semanas após o evento, conforme relatos de membros do grupo SOS Barragem e moradores da zona de auto salvamento – lê-se zona da morte – funcionários da mineradora iniciaram um processo de visitas domiciliares para “recadastramento” das famílias desta zona de impacto caso haja o colapso da barragem, mas o que se viu foi uma investigação acerca do grupo que enfrenta e denuncia a mineradora conforme cópia obtida:

Reprodução: moradores

Tais práticas vindas das mineradoras, são replicadas em todos os territórios em disputa, e o Brasil hoje, conforme relatório da ONG internacional Global Witness, o número de assassinatos de ativistas e defensores de direitos humanos em 2019, registrou no Brasil 24 mortos, os membros do grupo SOS Barragem, vivem hoje o medo do rompimento da barragem e o medo da violência imposta pelas mineradoras.

O grupo SOS Barragem com o apoio de outros movimentos como a Comissão Pastoral da Terra, Comitê Popular da Zona Rural de Brumadinho e Fórum de Atingidos (as) pelo crime da Vale em Brumadinho – FAACVB, protocolaram nesta semana uma denúncia conforme trecho abaixo:

“A empresa Vallourec, que explora a Mina Pau Branco em Piedade do Paraopeba, (…) após denúncias de organizações e da comunidade local, (…) iniciou o cadastro da população localizada na zona da morte (…) No questionário do cadastro a empresa faz perguntas que caracterizam de forma muito explícita a espionagem e a coação às pessoas e organização que são críticas ao posicionamento da empresa e que lutam em defesa (…)” E pedem a paralisação da aplicação do cadastro realizado pela empresa Vallourec como medida urgente.

Assim como George Orwell em seu livro 1984 “O Grande irmão está observando você”, a comunidade do distrito de Piedade do Paraopeba está sentindo o peso e a força do sistema minerário que opera hoje no estado de Minas Gerais, estado que carrega em seu nome a maldição das minas, a gula das mineradoras que exploram as riquezas minerais, exploram a mão de obra, mineram a vida dos lugares, que retiram o ferro para levar lucro com a venda nos mercados internacionais, e neste solo explorado “(…) quantas lágrimas disfarçamos sem berros (…)” que Drummond já denunciava em seu poema “Lira Itabirana” e que se reproduz em todo o estado das Minas Gera “ais”.