CONTO

Por C. Alfredo Soares

 

Com quantas pedaladas se faz o caminho até ela?

Sobe, desce, acelera e freia. O dia não a contém, mas ela contém o dia inteiro.

Sorri, enquanto transpira, viaja, enquanto admira a paisagem refletida na retina de seus belos olhos negros.

Para e saboreia uma água mineral como se vinho fosse.

Morena das pernas grossas.

Quilômetros indo pra depois voltar. Solta feito o vento que corta a planície. Rodopia por aí feito curupira, sacudindo as madeixas cacheadas e o capim da estrada. Levanta a poeira e se vai apagando o rastro pelo caminho.

Se chove se refresca, se não expele sal na pela quente. Temperança que equilibra à luta diária e repõem o sorriso largo no rosto.

Nada a contém, mas tudo a traduz.

Não é  refém de nada e nem de ninguém.

Parece um pássaro a voar mesmo estando sentada no selim da bike.

A brisa na face, o ar no pulmão. Acorda antes do sol raiar e volta pra casa com a lua no horizonte. Ela passa pelos recantos, riachos e pontes, toma água de concha na mão. É ribeirinha e urbana , difícil de acompanhar. Morena você é um presente, pra te alcançar só te segurando dentro de um abraço seguido de um beijo molhado e quente. Daqueles que bambeia as pernas e abala o coração da gente. Pra entendê-la é preciso ter alma livre e voar feito um gavião que mira a presa e não erra. Quando parar, para olhar a paisagem, olha pro alto e perceba ele te admirando lá do alto azul do céu.