POESIA

 

 

Por Cláudio Lessa

 

 

Por já ter lido Clarice,

eu posso dizer sobre as emoções

que me visitam depois de lê-la…

Pois, existe a percepção de antes

e a de depois de Lispector…

E se em alguma instância eu sonhei

de um certo jeito…

após o verbo de Clarice…

sonho em outras esferas…

Porque antes de Lispector

eu percebia a alegria irreal

e bem próxima…

Mas depois de Clarice a percebo tão distante

quanto possível…

E quando eu brincava de perplexidade…

não imaginava que os espantos fossem

pássaros que pousam e fazem

ninhos…

Depois da autora, vivo num campo

minado onde explodem o susto,

a palidez… e uma mudez que tudo fala…

E sempre fui o meio fim de Clarice…

e, talvez, Lispector tenha sido

o plantio de algo futuro em mim…

Quando me encanto clandestinamente…

quando a estrela escapa da hora…

quando passeia uma velha e solitária senhora.

quando o ovo da galinha se descobre

e o sopro de vida me vista a adolescência cansada…

é porque a fagulha riscada de Clarice Lispector

se acende em mim…

Não só em mim… em nós…

Não apenas para os que escrevem

e esquecem do que escreveram…

mas para todos os que que se

asfixiam com a própria respiração…

para os que perdem tudo,

para os que não acham vantajoso viver

sem perdas importantes…

Aqueles que os espertos,

por serem tolos,

apelidam…. “bobos…”

e que de fato, para Clarice Lispector,

afortunadamente, o são…