CONTO

Por C. Alfredo Soares

 

A menina moça da beira do rio que lava a roupa sorrindo na água corrente com sabão em barra e rala os dedos ao esfregar a calça surrada que precisa secar de madrugada pra usar de novo pra n’outro dia ao acordar e ir pra batalha que só termina após o grupo escolar noturno sem antes de deitar descolar um prato de feijão com arroz e farinha do que restou do almoço comido com a mão quente do dia refrescada por um copo d’água com gosto bom do filtro de barro que fica em cima da pia com panelas arriadas na bica que refletem o sorriso largo da menina já moça que na beira do rio toma banho molhando a cabeça nas águas límpidas iluminadas pela lua d’Oxum que não a abandona nem de noite e nem de dia por ser sua filha que luta e sonha num final de domingo que antecede a segunda que se estende até sexta-feira pra Oxalá libertar do jugo que se repetirá por toda vida se não acreditar naquilo que não se vê com os olhos mas sente no coração criando uma distopia que precisa se materializar pois tudo que lhe resta é imposição ou resquício de uma diáspora que não cabe mais ao seus mas que apesar de toda truculência de quem tenta conter ousa desafiar a força natural dos que vieram da beira do rio de dentro da mata trilhar o caminho de quem como a água do rio corre em direção ao mar

a menina reflete sua realeza ancestral