CONTO

Por Valéria Soares

 

No auge da pandemia, era comum aceitarmos a morte como o fruto mais terrível a ser combatido e certamente era. Entretanto, devido a sua irreversível condição, esquecemo-nos ou minimizamos a importância de outras consequências que surgiriam. Agora, ainda que não totalmente tranquilos, mas conseguindo respirar sem ajuda de aparelhos; é possível perceber que o traspasse pode se dar enquanto a vida, aparentemente, continua.

Não raramente, olhos cansados, esperança perdida, tristeza profunda têm acompanhado muitos afundados por tal momento. Se para milhares a luta terminou para outros tantos, perdeu o sentido. 

Crianças, adolescentes, jovens e adultos precisam de cuidado, de vida, de esperança para continuar.  Precisam de uma vacina para seus traumas e medos. 

Enquanto um sorriso irônico ilustra o rosto do nosso Presidente ao sugerir que a vacina de nada adianta – omitindo informações para legitimar sua fala – a saúde mostra-se muito mais complexa do que as rasas análises a que temos sido expostos. 

Há muito a ser feito e não para na vacinação mesmo sendo ela de extrema importância. 

O ser humano – corpo, alma e espírito – não pode ser cuidado tão superficialmente. À saúde pública – entendo – cabem as mazelas físicas e emocionais cuidar a fim de não corrompermos toda uma geração. Os frutos começam a amadurecer. Que sejam cuidados, não apodreçam doentes e abandonados.

É tempo ainda. Restauremos, pois, nossa alma.