CONTO

Por Valéria Soares

 

Estamos na estação mais feminina do ano. Não só porque ela se enfeita e torna-se caprichosamente colorida mas também por apresentar um temperamento sedutor e imprevisível.

Talvez, vivendo na serra, este comportamento seja mais perceptível, não sei. O fato é que, mesmo consultando a previsão do tempo, nunca é simples vestir-se pela manhã quando só voltaremos à noite para casa. Faz-se necessário ciência, percepção fina, leitura apurada do céu, do vento, das nuvens, das montanhas…

Um jogo instigante que ora verdade diz ora mentira conta.

Às vezes, é verão, desnuda-nos, toca-nos a pele, faz-nos queimar e desejar mais… De repente, deságua em tempestade, granizo, alagamento e nos afasta zangada, magoada como menina pirracenta.

Entretanto não nos deixa ofendidos por muito tempo. Transforma-se em vento frio, neblina e quer aconchego, vinho, lareira, cobertor e pede pra dormir de conchinha.

A manhã seguinte é uma incógnita. Não se sabe se arderá em sol, se nos desnudará os corpos provocando desejos, se fará pirraça e choverá torrencialmente pra chamar a atenção ou se permanecerá sob o cobertor, encantada, enfeitada com cheiro de flor.

Definitivamente, a Primavera é uma mulher de fases.