CONTO

 

 

Por Valéria Soares

 

 

Lembro-me do meu bisavô. Forte, sacudido, entendedor de ervas, exterminador de formigueiros, cuidador de seus cachorros.

Lembro-me do meu primeiro dia na escola. Na volta ele me perguntou sarcasticamente: “Você aprendeu como é um pé de jiló?” respondi com a soberba de quem achava que a vida se aprendia na escola: “Isso não ensiná la!” E ele com seu jeito desdenhoso e provocante: “Então não serve pra nada! Aprender aritmética e não saber o que é um pé de jiló! Quá!”

Ele adorava implicar comigo ou com todos, mas eram suas receitas de chás e sua disposição de entrar na mata, que ainda havia perto de casa, em busca dos seus matinhos milagrosos, que me tiravam das medonhas crises asmáticas, livravam-me dos vermes e das enxaquecas: saião, hortelã, erva-de-são-joão, carobinha, Macaé e outras das quais não me lembro do nome.

“Vai chover hoje, vô?” e ele estudava o sentido do vento e respondia certeiramente. A gente saía sem a preocupação de ser surpreendido.