CRÔNICA

 

Por Vera Lucia S. Santos Gregorio

 

 

No próximo Natal estarei em Nova York, com minha filha. Lugar que escolhi pra passar as festas de Fim de Ano.

Me lembrei dessa afirmação tão segura, de uma amiga muito querida, dita no final de 2019, numa das nossas conversas terapêuticas num dia de trabalho cansativo. Amiga que, não faz muito tempo, decidiu-se a fazer algo por e para ela mesma . Essa decisão envolve muito mais que resolver onde passaria o próximo Natal e Ano Novo. Envolve onde e como quer viver sua própria vida.

Não queria falar sobre o desgastado assunto da COVID-19 e suas consequências devastadoras sobre as nossas vidas. Não queria falar porque ela já está presente 24 horas por dia na nossa cabeça e coração .

Não queria ficar aqui divagando sobre causas, consequências ou repetir o que mais ouço nesses últimos meses (e lá se vão 9 meses). Não queria ficar filosofando de forma rasa “é… como dizia Sócrates: ‘só sei que nada sei’…” pra justificar uma situação absurda como a que vivemos.

Quando ouço alguém citando o que supostamente Sócrates teria dito, como se fosse uma máxima para nossa vida, uma explicação passiva para anestesiar nossas consciências que, sim,sabem perfeitamente que “sabem”.

Utilizam-se dessa frase, pinçada de um contexto histórico-filosófico para se dirimirem da responsabilidade que temos para com a situação de “ausência de Natal” que vivemos.

Não. Não basta dizer que nada sabemos e tocar a vida como se tudo dependesse única e exclusivamente de um Ser maior que pode revirar nossas vidas de ponta-cabeça a qualquer momento. Não mesmo.

Somos sim responsáveis , ou co-responsáveis se preferirem, por toda essa incerteza e dor que estamos vivendo.

“Sabemos” sim que perdemos a possibilidade de planejar o Natal do próximo ano porque não conseguimos (por preguiça mental, egoísmo, acomodação, enraizamento no “ontem”, prepotência e outras coisinhas impublicáveis) planejar nem o “hoje”.

O que tem isso a ver com o vírus, o isolamento social, o pânico que toma conta das pessoas responsáveis que procuram pautar sua vida pelos princípios básicos de ética, da correção, do respeito à vida, ao meio ambiente, ao outro?

Tem a ver com  coletividade.

Simples assim.

Complicado assim.

No Natal passado já sentíamos, e discutíamos nas nossas conversas, que algo ia muito mal na humanidade. Só não percebia quem insistia em acreditar que “nada sabia”.

 

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