08.03.24-Europa – Pressenza Nova Iorque

Parece que a Europa e a União Europeia estão caindo numa loucura total. Não me refiro às populações, mas aos nossos dirigentes não eleitos em Bruxelas e aos nossos assim chamados políticos, dentro e fora dos governos. Algo de muito sombrio e feio está acontecendo e me faz lembrar os outros dois períodos sombrios da história da Europa que desencadearam a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais.

Por Peter Noordendorp

Como todos sabemos, a Primeira Guerra Mundial pôs fim aos impérios monárquicos europeus existentes na Áustria, Alemanha e Rússia. O último, foi por causa da Revolução Bolchevique de 1917. Embora ambas as guerras mundiais tenham explodido a partir do território alemão/austríaco, toda a Europa esteve metida nelas. No período entre as duas guerras, o fascismo floresceu em toda a Europa, não só na Alemanha Nazista.

O que quero dizer é que duas guerras mundiais tiveram origem na Alemanha/Áustria, bem no centro da Europa. E que, em ambos os casos, o Império Britânico desempenhou um papel significativo que facilitou a conflagração final. Se você acha, por exemplo, que Hitler e o seu partido conseguiram, sozinhos, chegar ao poder e tirar a Alemanha da sua profunda miséria econômica e, em seguida, construíram o exército mais moderno da época, está muito enganado. Muitas partes interessadas estavam envolvidas, com os EUA e a Grã-Bretanha no topo da lista, com seus bancos e indústrias investindo no setor alemão. Se Hitler era um monstro (e com certeza era), toda a Europa e os EUA o levaram ao poder, sabendo perfeitamente bem o que significava o seu nacional-socialismo. Fecharam os olhos, porque o seu principal interesse era pôrem as mãos nas indústrias da Alemanha. Business as always.

E foram esses negócios que nos conduziram à Segunda Guerra Mundial, com todos os seus horrores tremendos. E, com isto, chegamos à Rússia…

A Rússia nunca, em toda a sua história, atacou os países da Europa Central e Ocidental. Pelo contrário, os países da Europa Central e Ocidental atacaram muitas vezes a Rússia. Eles nunca venceram, e a Rússia estabeleceu suas fronteiras ocidentais de forma a minimizar novos ataques. Portanto, nunca houve uma ameaça da Rússia na história europeia, mas sempre houve uma ameaça dos países da Europa Central e Ocidental em relação à Rússia. As duas maiores ameaças à Rússia vieram de Napoleão, da França, que chegou a Moscou, e de Hitler, da Alemanha, que chegou muito longe em terras russas. Em ambos os casos, perderam terrivelmente. Napoleão foi perseguido de volta até Paris, mas o czar russo da época não ficou em Paris: Ele voltou para a Rússia depois do seu trabalho ter sido feito. Porém, após a aventura de Hitler na Rússia (que custou muitos milhões de vidas russas), a então União Soviética decidiu que já era o bastante e que, dessa vez, a Rússia garantiria que nunca mais seria atacada diretamente. Assim criaram, depois de terem derrotado a Alemanha, o chamado Pacto de Varsóvia: Uma espécie de tampão formado por uma parte da Alemanha e de vários países da Europa Oriental, sob o controlo direto de Moscou. Esse pacto permaneceu em vigor até que o último presidente da União Soviética, Gorbachev, derrubou a Cortina de Ferro e, com ela, o Pacto de Varsóvia, devolvendo à Alemanha seu território oriental e dando a independência a todos os outros países do Pacto de Varsóvia. Mas ele fez isso sob uma condição: A promessa do Ocidente de nunca expandir a OTAN para o leste, até às fronteiras da Rússia.

A partir de então, conhecemos bem a história: A OTAN expandiu-se, e os EUA queriam uma Rússia muito fraca, incorporada no livre mercado neoliberal, para que o Ocidente pudesse saquear o país e pôr as mãos em todos os seus ricos recursos. Mais uma vez, o interesse predominante era o grande capital e o controle por parte do Ocidente.

Resumindo, todos os seus planos falharam, porque Putin chegou ao poder e seu objetivo era trazer a Rússia de volta como um país forte e independente. Ao mesmo tempo, advertindo a OTAN para não se expandir mais do que já tinha feito. Mas o Ocidente, com os EUA à frente, não estava satisfeito. Eles mantiveram seus planos e provocaram um golpe de Estado em Kiev, na Ucrânia, para instalar um governo que atenderia às exigências da UE e dos EUA, vendendo toda a indústria e todos os recursos a firmas ocidentais. Eles ajudaram conscientemente elementos neonazistas a chegar ao poder, e a população de língua russa do leste e do sul da Ucrânia se rebelou, não aceitando o golpe. O governo neonazista em Kiev enviou o seu exército lutar contra os seus próprios cidadãos durante 8 longos anos. No final, para resumir, a Rússia sentiu-se obrigada a proteger os seus irmãos e irmãs russos nas regiões leste e sul da Ucrânia e invadiu o país (aliás, as regiões leste e sul da Ucrânia eram historicamente uma parte integrada da Rússia. Foi Lênin quem entregou essas regiões à República Soviética da Ucrânia por razões que não conhecemos. E, mais tarde, Nikita Khrushchev doou-lhes também a Crimeia).

Agora voltemos ao início do meu artigo. A partir desse exato momento, o Ocidente ficou furioso e iniciou uma série de ações para derrotar a Rússia economicamente, militarmente e moralmente isolando-a do resto do mundo. Não funcionou: a Rússia saiu, após 2 anos, mais forte do que nunca, economicamente, militarmente e moralmente. E, em vez de ficar isolada, as suas relações com muitos países não europeus expandiram-se e fortaleceram-se. E a Europa? É novamente derrotada em todos os aspetos. Mas os nossos políticos insanos não querem desistir. Isto faz-me lembrar Hitler nos seus últimos dias, quando tudo já estava perdido e ele disse, na sua loucura, que, se estivesse a cair, toda a Alemanha devia cair com ele também.

Parece que a UE está a fazer o mesmo agora. Não com as palavras exatas de Hitler, mas fundamentalmente o mesmo: Ou seja, sacrificar toda a Europa e a sua população no altar de uma guerra por procuração contra a Rússia, até que este inimigo seja derrotado. É certo que nenhum dos nossos políticos estudou muito bem a história europeia pois, se o tivessem feito, saberiam que derrotar a Rússia é impossível: Isso nunca aconteceu antes, e não irá acontecerá agora.

Eles não conseguem abandonar sua arrogância patética, e nem mesmo veem como o seu suposto aliado e mestre, os EUA, estão conscientemente conduzindo a Europa à sua dissolução econômica, transformando-a num playground militar com uma indústria militarizada, para que um dia os EUA possam finalmente quebrar a Rússia.

A loucura ocidental é guiada por uma repetição do passado.

Só podemos esperar que algo novo, e de não-violento, possa florescer para corrigir este curso destrutivo.


Tradução do inglês por André Souza para a PRESSENZA