“Sem dúvida — pensei —, todos aqueles que levam uma vida de trabalhos e sofrimentos podem, com razão, invejar as avezinhas do céu, que não conhecem nada disto!”
Dostoiévski, Gente Pobre

O iluminismo agora não está em questão. Muito menos se fala de uma revolução. Trata-se apenas de reflexões sobre mais uma eleição. Pega a visão, pois, a revolução francesa foi assunto registrado no final dos 1700, agora trata-se da décima segunda eleição geral da quinta república. Se as letras aqui viessem do Comitê Invisível, provavelmente viriam regadas por críticas fecundas. Mas a razão para escrever sobre o assunto hoje é a situação que nos atinge profundamente, levando-se em conta que eleição presidencial haverá, também este ano, no país Brasil.

Entendamos: a França, que fala da quinta república foi impactada por uma eleição que a direta do centro disputou com a extrema direita. E uma disputa, que nos versos eleitorais, obteve mais de 27% de abstenção das pessoas que votam. E, das que foram votar, mais de 41% disseram  que a direita que acabou eleita era insuficiente e votaram na extrema direita.

No tempo do óbvio perdido, a disputa no primeiro turno, na França que disputou colonização no Brasil, viveu uma votação na qual sete legendas partidárias que se pode considerar de centro-esquerda obtiveram, com seus votos somados, menos votos que a direita e a direita da direita. Pode-se dizer que a “CENTRO-ESQUERDA” da França obteve unificada, sem estarem juntas, 35,07%. Por sua vez, a candidata da direita da direita obteve, em uma só sigla eleitoral, no primeiro turno, 23,15%. O atual presidente, e candidato da direita com narrativa de centro, que ganhou as eleições, obteve 27,84%. Ou seja, uma unidade, mesmo que só eleitoral, de “CENTRO ESQUERDA” poderia esculpir outros resultados. Sempre podemos aprender, sempre podemos.

Então vamos lá pensar juntos, ao menos tentar, ao menos para não inflar a “solidão revolucionária” dos sujeitos que apostam superar o capitalismo. Pode-se compreender, neste tempo em que o obvio está nebuloso e inexistente, que a concentração do imperialismo, centralizado nos EUA, por um lado e, por outro lado, a inexistência de uma alternativa objetiva em escala mundial que dispute a humanidade para assumir o lugar de sujeito anticapitalista, fazem com que as disputas sejam entre capitalistas, independente se mais ou se menos burgueses. Afinal capitalismo e burguesia não são sinônimos, pois, se assim fosse um burguês não teria sido um dos principais comunistas e Engels foi.

Mas vamos lá, mesmo compreendendo que Dostoiévski não ajuda a explicar o que acontece em eleições do nosso tempo e não seja uma referência nas escritas para a superação do capitalismo, ele serve para nos abrir os sentidos. É isso, pois, é melhor para a alma sentir as “avezinhas no céu” do que ver as contradições e mais profundas desigualdades que vivemos no mundo e no Brasil. O desafio, por enquanto só um desafio, que setores de Centro Esquerda possuem em não permitir que o presidente atual seja reeleito, precisa de convivência com a mais coletiva solidariedade e inteligência em todos os setores. Independente do “arquétipo” a política que assegure que a vida não piore, possa melhorar e que existam condições para ampliar as forças da transformação pelo BEM VIVER, é um desafio que as eleições na França também podem nos ajudar a entender.