CRÔNICA

Por Valéria Soares

 

Lembro- me de um tempo em que as pessoas aproveitavam a tarde de domingo para fazer visitas umas as outras. Era comum que minha mãe fizesse um bolo e o deixasse reservado para as tais que podiam ser de amigos, parentes ou comadres e compadres. Muita conversa e café com bolo.

A televisão ficava ligada no Silvio Santos, os adultos torcendo pelo número do seu carnê do  baú da felicidade enquanto nós, crianças, sonhávamos com os presentes do “Boa noite, Cinderela!”

Tudo acontecia ritualísticamente. A missa das dez com a melhor roupa, o almoço com frango assado e Coca-Cola família. O avô que sempre vinha “porvar”  da comida, a Brahma  na cabeceira da mesa, o pudim de leite na sobremesa.

Os visitantes sempre traziam seus filhos. Enquanto conversavam sobre o que não podíamos ouvir, brincávamos no quintal. No domingo seguinte, certamente retribuiríamos a visita ou iríamos à casa de alguém que estivesse acamado.

A noite levava todos para suas casas e trazia o Fantástico com suas bailarinas pintadas.

Na segunda tinha escola e os legumes não vinham envolvidos em maionese. O suco de garrafa ou de pacotinho substituía o refrigerante e a cerveja. À mesa, a saudade do domingo, a rotina e laranja como sobremesa.