Nos últimos nove dias da COP26, os governos têm divulgado informações sobre o que farão — ou ao que parece, não farão — para atingir as metas do Acordo de Paris.

Conforme o novo site lançado esta semana, militaryemissions.org, uma peça-chave do quebra-cabeça que permanece escondida relaciona-se à recusa, por parte de muitos governos, de publicizar as emissões de carbono de suas atividades militares.

Para destacar a dimensão da lacuna das emissões militares, o Conflict and Environment Observatory (Observatório do Conflito e do Meio Ambiente, em tradução livre) e o Concrete Impacts (Impactos Concretos, em tradução livre) reuniram os dados apresentados pelos governos a respeito das emissões de suas forças armadas em um site, permitindo às pessoas ao redor do mundo analisarem o que os governos reportam.

“É imprescindível que os governos tomem medidas urgentes para reduzir a enorme contribuição dos militares para a crise climática”, disse Doug Weir, do Conflict and Environment Observatory. “Com este novo site, podemos ajudar o público, as autoridades políticas e os próprios militares a compreenderem a verdadeira gravidade do problema, o que é um primeiro passo importante para enfrentá-lo”.

O termo “emissões militares” não se refere simplesmente aos combustíveis fósseis que as forças armadas queimam em navios, tanques e aviões. Ele também engloba a logística dos transportes, operações de construções e a cadeia de suprimento de armas, desde a extração de matéria-prima, a fabricação, o desmantelamento, até o descarte.

Para exemplificar a magnitude das emissões militares, se o exército dos Estados Unidos fosse um país, suas emissões seriam praticamente iguais às do Peru, de acordo com pesquisadores das Universidades de Durham e Lancaster.

Apesar do enorme impacto ambiental, a verdadeira amplitude das emissões de gases do efeito estufa pelos militares permanece oculta. Em alguns países, não há divisão entre emissões militares e civis, ou às vezes fornecem dados incompletos. Já outros países justificam a não declaração citando interesses de segurança nacional.

Linsey Cottrel, do Conflict and Environment Observatory, disse: “Quarenta países industrializados gastaram cerca de 1.270 bilhões de dólares com forças armadas em 2020. No entanto, somente cinco deles reportaram suas emissões militares de acordo com as diretrizes da ONU”.

Os organizadores desse novo projeto reivindicam três compromissos dos governos ao redor do mundo:

  1. Países industrializados devem desenvolver relatórios sobre as emissões de gases do efeito estufa por parte de suas forças armadas, sendo estes obrigatórios e verificados independentemente com o intuito de tornar a informação transparente, acessível e distinta das emissões de outros setores da economia;
  2. Apresentação voluntária, por países emergentes, de relatórios anuais sobre suas emissões militares;
  3. Governos devem estabelecer metas claras para a conservação de energia pelas forças armadas, para a redução da dependência dos combustíveis fósseis e para a transição à energia renovável ambientalmente responsável, reduzindo genuinamente as emissões e não se ancorando em medidas compensatórias.

O cumprimento dessas três reivindicações certamente não resolverá a crise climática global. Contudo, os cidadãos merecem compreender a magnitude da contribuição das forças armadas para as mudanças climáticas. Os organizadores da Military Emissions Gap (Lacuna das Emissões Militares, em tradução livre) alertam para o greenwashing (branqueamento ecológico ou lavagem verde) a nível militar, demandando uma lista específica de exigências para que seus relatórios sejam confiáveis e significativos no movimento geral pela redução massiva das emissões.


Traduzido do inglês por Edmundo Dantez / revisado por André Zambolli