CONTO

 

 

Por Valéria Soares

 

 

Primeiro dia de aula. Sente-se desconfortável. Não conhece ninguém. Repara nas meninas da turma, vê se tem alguma gatinha pra azarar. Procura pelo fundo da sala. Percebe que todos se conhecem. Definitivamente ele é o estranho. Na frente está uma menina de sorriso fácil que logo puxa conversa. Muito simpática. Apresentam-se. Outras se aproximam. Aos poucos vai conhecendo toda a turma. 

Boa aluna, presta atenção em tudo.  Adora o movimento da turma, da escola, mas mantém certo distanciamento como quem não quer ser parte de tudo que acontece. Amam música!

Ele traduz algumas pra ela. Cantam as que mais gostam. 

Gosto sempre igual.

O menino logo se apaixona por alguém da escola. A menina da carteira da frente torna-se sua confidente. Falam o tempo todo. Estão juntos todo o tempo. Ela sabe tudo sobre ele. Ele sabe quase tudo sobre ela… Os dois se divertem tanto que começam a ser alvo de brincadeiras. A primeira a comentar é uma das professoras que os apelida de Super-homem e Mulher maravilha. Ficam constrangidos. Ela teme que ele desista de ser seu amigo. Ele teme que alguém ache que  está apaixonado por ela. 

Ele leva um fora. O ombro da amiga é o melhor lugar do mundo. Até se esquece de que está sofrendo quando estão juntos.

Longe, o assunto preferido dela é ele. As meninas da; sala já perceberam e dizem que ela está apaixonada. Desmente. São só amigos! No entanto, sozinha, em seu quarto, caminha com ele de mãos dadas e atravessam todo o pátio do colégio como  namorados. 

Suspira… 

“Ele nunca demonstrou nada”. É só amizade.

Longe, ele se arrisca a pensar nela de um jeito diferente: no sorriso límpido, na pele negra, no belo corpo, na cumplicidade… 

“Não! A zoação vai ser enorme!” 

Ela só é amiga dele. Nunca percebeu nada além da amizade.

Na escola, o disfarce faz parte do show. Nada nem ninguém pode abalar a amizade dos dois. 

Nem mesmo eles.