REFLEXÕES

 

 

Por Eduardo Alves

 

 

As desigualdades ultrapassam barreiras não imagináveis em tempos atrás. Mais que certeza, havia que uma grande multidão de pessoas sem vender a força de trabalho nutria o sistema capitalista. As pessoas chamadas de desempregadas ou sem acesso a qualquer fonte de venda da força de trabalho, o “exército industrial de reserva”, em multidão, sempre serviu para ajudar os burgueses imporem suas cotas, parcelas, partes, que são apropriadas e ampliam o lugar que já assumem no posto de milionários. Esse movimento é em escala mundial, onde a menor parte de pessoas vive de tal exploração e controle, enquanto a maior parte das pessoas vende a força de trabalho ou fica na fila de espera para conseguir renda por meio da exploração direta.  

Nesse quadro a conta ainda é simples, pois, todas as pessoas pagam para viver, mesmo quando nenhuma mercadoria para pagar possuem ou podem usar – como a venda da força de trabalho quando é impedida pelos proprietários poderosos. Ao mesmo tempo, a grande multidão de pessoas sem “espaço para venda da força de trabalho”, chamadas de desempregadas, serve para o banquete ideológico que força as pessoas empregadas a executarem a força que possuem. O medo de fazer parte do grande grupo de pessoas sem lugar para vender força de trabalho e de perderem suas “vagas” fazem com que as pessoas que possuem esse “direito” se dediquem para ter comida, água, moradia e um pouco de saúde para manter sua própria vida e a subsistência contínua da exploração.  

No tempo que vivemos nos dias de hoje, alavancado pela pandemia, novos temores aparecem, principalmente como onda da política. Ainda que o temor da morte, das doenças, da velhice e solidão sejam constantes para a humanidade, agora estão exacerbados em sequências máximas. Para o lucro ampliar, a exploração seguir seu curso, a dominação controlar sem trégua e com mais medos criados, parecem, os donos que se apropriaram do COMUM, não precisar de tantas pessoas na espera por renda, venda de força de trabalho ou quaisquer empregos que possa contribuir com o pagamento da subsistência. Também impedem que o Estado assuma quaisquer facetas de colaboração, contribuição ou direitos obstruindo as chamadas ações afirmativas ou políticas públicas para a garantia da subsistência. As desigualdades assumem, portanto, uma faceta mais ampla chegando ao patamar de NECRODESIGUALDADES e a morte é uma alternativa para não haver qualquer movimento que imponha sinais de conquistas por sinais de dignidade. Diante disto a morte, a diminuição nada natural do tempo de vida, as imposições de opressões múltiplas, por meio de discriminações diversas, do controle autoritário do Estado ou da elevação do impacto da exploração, são opções que os poderosos abraçaram. 

O discurso predominante afirma que a pandemia, que tem início em março de 2020, abalou o mundo. Mas o que abalou foi a reação do Estado frente esse fato que movimenta problemas de várias dimensões: sanitários, políticos, econômicos. Do ponto de vista do que se chama economia o abalo foi sentido nas pessoas que precisam vender a força de trabalho, seja qual for a modalidade, para viver. O abalo não atingiu os bilionários do mundo, mesmo em países de capitalismo tardio como o Brasil. Muito pelo contrário, houve um crescimento absurdo das desigualdades que aparece nos lucros abusivos e no crescimento das grandes fortunas. E, neste quadro, a chamada “população de rua” segue progressivamente ampliando e sofrendo as piores consequências da diminuição do tempo humano da vida subsistente, já que a vida plena é impedida na formação e ação dos agentes que atuam para manter e ampliar o capitalismo.  

Mesmo em um cenário que diminuiu a quantidade de espaços para compra de força de trabalho, diminui a capacidade de compra da maioria das pessoas, encolheu as alternativas para que a renda básica de sustentação existisse, como se marcou na pandemia, os 500 maiores bilionários do planeta tiveram crescimento de suas fortunas.  

Interagindo com o índice criado em março de 2012 – o Bloomberg Billionaires Index – um ranking diário das pessoas mais ricas do mundo, pode-se identificar que o ano do início da pandemia é também o de maior crescimento da riqueza de 500 pessoas mais ricas no planeta. Foi neste mesmo ano que tais bilionários adicionaram, segundo as informações do supracitado índice, os maiores bilionários do mundo adicionaram mais 1,8 biliões de dólares às suas fortunas, que alcançaram um total de 7,6 biliões de dólares.  

Tal impacto nas desigualdades, se alastrou por todo o mundo no meio de uma das mais graves crises já vividas e conhecidas pela humanidade. Os 42 bilionários brasileiros viveram e fizeram o conjunto de suas fortunas crescer US$ 34 bilhões, segundo a ONG Oxfam. O chamado patrimônio líquido desses seres mais afortunados subiu de US$ 123,1 bilhões em março para US$ 157,1 bilhões em julho deste ano. 

E atenção, a fortuna desses brasileiros seguiu a rota de bilionários latino-americanos e do Caribe. Também segundo a OXFAM 73 bilionários aumentaram suas fortunas em US$ 48,2 bilhões entre março a junho de 2020. Tais bilionários tiveram seus recursos financeiros ampliados em 17%, superando em valores, investimentos de governos de vários países para a defesa da vida. Evidente que, neste caso, em um país que o salário mínimo é 1.100 reais, 1/5 do preço estimado pelo DIEESE para o salário mínimo necessário na atualidade e com os poucos 600 e depois 150 reais para o auxílio emergencial.  

O que não foi avassalador foi o número de mortes, pois, agora que o Brasil já ultrapassa aos 400 mil mortos, segundo os números oficiais, o que pode levar a crer que há mais, e nessa multidão há uma grande maioria de pessoas empobrecidas pelo capitalismo. No mesmo contexto o mundo supera 3 milhões de pessoas com óbito, e a ampliação das desigualdades ultrapassa todos os patamares para manutenção da vida. A grande maioria das pessoas estão em países de capitalismo tardio, com colonizações massacrantes que ampliam as desigualdades em todas as dimensões. Nesse contexto, essa desigualdade mórbida, chega no patamar da NECRODESIGUALDADE em todas as dimensões humanas. 

Para paralisar essa tendência e modificar o rumo do mundo se faz necessário uma grande organização com a multiplicidade de diferenças na inteligência de todas as pessoas que vivem da venda de sua força de trabalho. Todas as pessoas que são atingidas por todos as ações cruéis do preconceito, das discriminações e dos controles intensos em suas vidas para fazer com que a liberdade seja sinônimo de exploração. Todas essas pessoas que são forçadas a fazer da sua força de trabalho um meio de sobrevivência e não de criação do novo, com o trabalho produzindo o mais coletivo de forma intensa. Essas são as pessoas que estão sendo oprimidas ao máximo seguindo a onda da NECROPOLITICA e do NECROCAPITALISMO, na velocidade devastadora das NECRODESIGUALDADES, precisam construir um método com ética e estética para conquistar o COMUM e a dignidade humana em todas as suas dimensões. 

Nosso desafio é UBUNTU ficar no processo da inteligência coletiva pelos agentes sociais que podem conquistar a liberdade e o BEM VIVER. Essa é a estrada de unidades e ações que motivam os corpos para impedir a ampliação das desigualdades e conquistar a solidariedade coletiva organizando o COMUM e fazendo com que o trabalho possa se aproximar da ótica criativa pela potência humana que amplia a vida.