CONTO

 

 

Por Valéria Soares

 

 

Toda menina ganhava boneca. Eu também. Achava estranho que elas fossem todas loiras, mas diziam que eram minhas filhas.

Não tinha paciência para elas. No máximo dava-lhes um nome. Bom mesmo era brincar de pique esconde, bandeirinha, queimado e carrinho de rolimã. Soltar pipa era um sonho proibido, havia meninos demais.

Minhas bonecas não falavam, não andavam. Chatas. Muito chatas.

Cansei de ouvir que não seria boa mãe. Imagina! Menina que não brinca com bonecas!

Minha filha brincou com as tais. Ela as mantém guardadas como um tesouro. Entretanto não degenerou: solta pipa como ninguém!