Qualquer pesquisa na internet indica 8 dias como datas importantes no mês de novembro. Lamentavelmente, fora das pesquisas comuns, não aparece, em novembro, a data de uma vacina para o vírus que, por conta da política adotada pelo Estado Nacional, assola o Brasil nesta epidemia de morte. O lugar considerado o mais avançado nesta questão, que desenvolve a vacina de Oxford, lugar sobre o qual as notícias falam em desenvolvimento acelerado, divulgam que cerca de seis meses serão necessários para um resultado final favorável, que possa ser usado em larga escala. No Brasil, a expectativa de conclusão dos laboratórios em convênio e em movimento é entre janeiro e junho de 2021. Então é isso, novembro não terá uma data da vacina com eficácia em acesso e contenção do vírus para ser comemorada pela vida.

Nesse caso, que envolve agora a pandemia, tem importância uma ressalva: faz-se necessário destacar a velocidade e o empenho da ciência. É graças à ciência, à existência de acúmulo teórico e teórico-empírico de profissionais comprometidos, que se pode falar de combate à pandemia. E, também, fruto dessas condições, pode-se falar em vacina no início do ano que vem. O capital do conhecimento e da inteligência coletiva toma espaço cada vez mais. Ele nos coloca, ao perceber, enxergar e entender, vários desafios: superar a política negacionista que mata, oprime e explora; construir inteligência coletiva na política e nas ciências da humanidade para superar toda a ordem que toma o mundo e massacra o Brasil.

Isso à parte, precisamos ir além dos sonhos que temos em nós e avançar para ações qualificadas no tempo. Assim, ficamos com mais uma data que também não aparece nas pesquisas dentre as datas importantes: o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Essa data simboliza um norte para muita formação e organização. Dia de mostrar o quanto se avançou e o quanto se tem que avançar no enfrentamento do racismo estrutural que assola o Brasil e que se mistura com peso no patrimonialismo institucional brasileiro, marca fundamental dos limites de desenvolvimento do movimento de democratização no país. Aqui, quando falamos de democratização, nos referimos tanto aos espaços conquistados para que a grande maioria assuma e se reconheça no papel de sujeito histórico, quanto à superação das desigualdades que tiram nossas vidas, antecipando quaisquer referências de tempos biológicos e cronológicos possíveis. Significa, também, um norte para que unifiquemos nossas leituras, estudos e trabalhos organizados de formação. Precisamos aprofundar e ampliar nosso território comum de formação política, teórica e teórico-empírica, de modo a se constituir, ele mesmo, como terra firme de pluriversidade narrativa, de debate e diferenças conceituais, de múltiplos lugares de fala, mas que se constituam como força qualificada para a transformação necessária e para o nascimento do novo.

Soprando a favor desse norte, há outras duas datas que chamam a atenção e que devem movimentar nossa determinação na direção de mudar o mundo e o Brasil a favor da vida. Serão as eleições para presidente, tomara que novo, nos Estados Unidos, e as eleições para as prefeituras e os parlamentos das cidades no Brasil. Essas datas são as que, desde hoje, precisam nos movimentar, mobilizar nossas atenções, organizar o trabalho de formação coletiva e de ação solidária para as alterações institucionais e de grande escala política a favor da vida. Não é isso que nos unifica? Nossa unificação por democratização, direitos, educação, saúde, acessos à cidade, cultura, moradia, saneamento, água, renda básica, direitos humanos e de todos os seres sencientes, no território da defesa da vida. Sejam os grupos sociais, os grupos políticos ou as pessoas com suas múltiplas singularidades, nessa grande multidão, unificam-se na garantia da vida, plena, longa, digna e com a mais profunda convivência humana.

A convivência precisa do viver em todos os seus sentidos e direitos plenos. Aprofundar, organizar e apostar na convivência, com respeito, empatia e superando os preconceitos, é um grande desafio para nós, sujeitos das mudanças no século XXI. Condição fundamental, inclusive, para que se possa criar inteligências coletivas com potências revolucionárias, abandonando de vez os preceitos da guerra e abraçando os fazeres humanos como frestas para criar e ampliar a potência humana criativa em todos os tempos.

Será no dia 3 de novembro que virá o desfecho final das eleições nos Estados Unidos. Entre prévias, escolhas para os que serão escolhidos e uma junção de voto direto e indireto, onde o indireto vale mais, no dia 3 de novembro, segundo o calendário, o processo se encerra. Lá não tem jeito: nesse imperialismo decadente, qualquer impulso democrata no mundo precisa torcer para a derrota do atual presidente. Nos EUA há várias legendas legalizadas para disputar eleições, mas sabemos que duas dessas chamadas de partido se enfrentam até o final: democratas e republicanos. O que leva muitas pessoas a pensarem que por lá só há duas legendas eleitorais, mas não, isso não é verdadeiro. A questão é que os 538 delegados, assim são chamados, decidirão o próximo presidente. São delegados de 50 estados em disputa, mas 6 deles possuem 35,6% dos delegados. O que faz dos estados de Califórnia, com 55 delegados, Texas, com 38 delegados, Flórida, com 29 delegados, Nova York, com 29 delegados, Illinois, com 20 delegados e Nova York, com 29 delegados, estados decisivos nesse processo. Um processo que, para muitos de nós, o que vale mesmo é tirar Trump da presidência, acontecimento que será de grande importância para o mundo e para a disputa política que há hoje no Brasil. Haverá um pouco mais de sinais de vida, tenham certeza, se assim o for.

Novembro, para nós, ainda é primavera: mês de datas importantes que nos convidam a desabrochar, como flores de lótus, nesta lama em que nos querem cada vez mais atolados, mas que, dialeticamente, nos traz insumos ainda mais potentes para o despertar dos novos tempos e do projeto societário que nos unifica e pelo qual vale a pena lutar.