Em São Paulo, no dia 28 de agosto, o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde em parceria com membros da REHUNO – Rede Humanista de Noticias em Saúde organizaram em colaboração com o debate: “Humanizando chegadas e partidas: aspectos jurídicos, emocionais e psicológicos do nascimento e da morte”.

O evento contou com a participação de diversos profissionais de saúde (médicos, parteiras, psicólogos, companheiros de cuidados paliativos) e de um público interessado em compreender melhor o nascimento e a morte.

Participaram do debate Flavia Estevan, parteira e acupunturista no Coletivo Feminista e em Equipes de Parto Humanizado; Victor Piccininni, Argentino e autor do livro “A arte de acompanhar, ferramentas e práticas para o acompanhamento pessoal e espiritual em cuidados paliativos” e Leticia Vella, advogada do Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde.

O encontro foi vivido como uma oportunidade para parar na vida e refletir sobre o essencial da existência: a vida e a morte. Cada um dos oradores apresentou a sua visão com base na experiência diária dos vários aspectos do nascimento, morte e questões legais relacionadas.

Flavia Estevan ofereceu uma reflexão sobre o nascimento e o tempo que este processo pode levar. Indicando que este tempo é variável em cada caso. Ela enfatizou o fato de que o parto é um ato em que dois seres estão envolvidos: a mãe e o bebê e, portanto, requer a sincronia de ambos. Ela advertiu que acelerar os tempos, por razões externas ao próprio parto é uma conduta que desumaniza o processo e recomendou “se queremos prestar uma assistência baseada nas pessoas precisamos deixar o relógio em segundo plano”.

Victor Piccininni, comentou sobre a necessidade de compreender o processo de morrer como uma mudança na condição de existência e que, se a esse fato for dado um sentido evolutivo, pode dar um novo sentido à vida. “Esta transformação essencial pode ser vivida com emotiva abertura e afeto ajudando a pessoa que segue seu caminho libertador e em sua profunda reconciliação”, acrescentou. Ele ofereceu o estudo e a prática das ferramentas contidas em seu livro “A Arte de Acompanhar”, que se destinam tanto a pessoas comuns como a profissionais de saúde em cuidados paliativos. Victor também nos deixa o seu testemunho sobre o que experimentou sobre o evento: “Aprecio o convite para participar no debate. Foi muito enriquecedor. Acredito que em momentos sociais tão difíceis, onde em muitas situações constatamos que reina a violência e a crueldade, a tarefa de nos colocarmos a refletir pessoal e coletivamente sobre os momentos misteriosos do nascimento e da morte nos ajuda a ressignificar o verdadeiro sentido da vida, nos permite um contato com a profundidade dos outros e de nós mesmos, e pode nos ajudar a construir uma sociedade mais solidária e humana.

Leticia Vella, apresentou ferramentas legais concebidas para que a pessoa possa expressar os seus desejos sobre o que quer e não quer que seja feito no parto e no fim da vida. O instrumento legal para o parto é chamado de Plano de Parto, onde a mulher reflete com sua família sobre os procedimentos que ela quer que sejam realizados com ela e quais prefere evitar. “Nos hospitais ainda há muita resistência da equipe médica em admitir esse tipo de decisões, e podemos pensar em um recorte de gênero, onde historicamente às mulheres não têm sido permitido decidir sobre seus corpos”, comentou Letícia. Não tanto no caso do Testemunho Vital, instrumento legal para a morte, que apesar de no Brasil ter sido feita uma tentativa de proibição por meio de uma ação civil pública do Ministério Público, hoje está em vigor e é cada vez mais bem aceito pela equipe médica.