Sonia Guajajara, da APIB, divulga nota pública em solidariedade à escola de samba Imperatriz Leopoldinense, que vem sendo criticada pelo samba enredo “Xingu, o clamor que vem da floresta”, que enaltece o povo indígena e critica a destruição das florestas

Sonia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), divulga nota pública em apoio à escola de samba Imperatriz Leopoldinense, do Rio de Janeiro, que este ano tem como samba enredo “Xingu, o clamor que vem da floresta”, que fala da importância das florestas para a população indígena, e critica o extrativismo insustentável e a Hidrelétrica de Belo Monte, também citando o desmatamento, o uso de agrotóxicos e os malefícios causados pelo “homem branco” ao povo nativo brasileiro. Leia-se ruralistas, representados no governo pela bancada ruralista, que recebe eco do grupo conhecido como bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia), que tentam silenciar as atrocidades que o mercado agropecuário causa às riquezas naturais do Brasil, como as florestas

Nota Pública por Sonia Guajajara

Solidariedade à Imperatriz Leopoldinense

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), manifesta por meio da presente nota pública o seus agradecimentos, parabéns e solidariedade à escola carioca Imperatriz Leopoldinense em razão da sábia e corajosa decisão de produzir e levar à Avenida Marquês de Sapucaí o samba-enredo “Xingu: O Clamor que vem da floresta”.

Representantes do agronegócio, especialmente membros da bancada ruralista, engenheiros agrônomos e profissionais de uma imprensa subserviente, que se sentiram aludidos, reagiram indignados e iniciaram uma campanha difamatória, de desqualificação e ofensas do samba, de críticas injustas à Imperatriz Leopoldinense, e uma sequência de ataques preconceituosos, racistas e estigmatizantes contra os povos indígenas do Brasil. Tanta revolta porquê?

Para a Imperatriz Leopoldinense, o samba-enredo, a partir de um compromisso com o social e o desenvolvimento sustentável, “celebra a diversidade”, ressalta “a rica contribuição dos povos indígenas do Xingu à cultura brasileira” e constitui “uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade”, considerando que “a produção muitas vezes sem controle, as derrubadas, as queimadas e outros feitos desenfreados em nome do progresso e do desenvolvimento afetam de forma drástica o meio ambiente e comprometem o futuro de gerações vindouras”, com resultados devastadores, impactos imensuráveis, “na maioria das vezes irreversíveis”, como os provocados pela Hidrelétrica de Belo Monte (o “monstro”).

Em efeito, o samba-enredo faz um alerta sobre a destruição em curso da mãe Natureza, e no seu compromisso em dar voz à diversidade, visibiliza os povos indígenas, e denuncia o atual Estado nacional, dominado por uma classe hegemônica que insiste em se enxergar como a única responsável pela formação social brasileira, ignorando a diversidade étnica e sociocultural que compõe o país.

Para a APIB, a letra do enredo não inventa a história, faz apenas justiça ao tornar pública a verdade de que até hoje os invasores roubam de fato as terras dos povos originários e praticam esbulho e destruição, devoram mesmo, através dos grandes empreendimentos (como Belo Monte) os bens naturais, matam as matas e secam os rios, pensando apenas nos seus lucros, por isso que não pouparam esforços para ajustar a seus interesses o Código Florestal e outros instrumentos jurídicos que visam dar legalidade a suas atrocidades contra os povos e a Natureza.

Os representantes do agronegócio reiteram as campanhas veiculadas pela mídia corporativa, ressaltando que ele é responsável por 30% dos empregos, 40% das exportações e 22% do PIB e que as terras indígenas não produzem nada, não contribuem com o PIB e não geram emprego.

No entanto estudos do Instituto de Pesquisa da Amazônia – IPAM e da Universidade de Brasília – UNB, afirmam que as Terras Indígenas são áreas que comprovadamente apresentam baixas taxas de desmatamento dentro de seus limites e ainda possuem um efeito inibidor do desmatamento em um raio de 10km em seu entorno – isso significa que, além de preservar as florestas e ecossistemas dos seus territórios, os povos indígenas ainda garantem que o seu entorno também seja menos destruído, o que tem salvo o Brasil de uma maior catástrofe ambiental. Em 2016, ano que o desmatamento na Amazônia cresceu 28,7% em relação ao ano anterior, as maiores taxas foram observadas em áreas privadas (35,4%), enquanto a taxa de derrubada em Terras Indígenas foi de apenas 1,28%, configurando-se como a categoria fundiária com as menores taxas de desmatamento.

Ainda de acordo com os estudos, por causa do desmatamento, a região da Bacia do Xingu sofreu com um aumento de temperatura regional de cerca de 5°C no período de 2002 a 2010. Apenas nas áreas que mantiveram a floresta, no Parque Indígena do Xingu e entorno, a temperatura permaneceu estável. Enquanto a temperatura nas áreas de floresta permaneceu na média de 25°C a 28°C, em áreas desmatadas a temperatura chegou à média de 33°C.

Por tudo isso, a APIB reitera os seus agradecimentos e solidariedade à escola Imperatriz Leopoldinense para que continue determinada a marcar presença na Sapucaí, para ecoar o samba-enredo “O Clamor que vem da floresta”. A sua arte certamente contribui para tirar os povos indígenas do esquecimento e da invisibilidade, além de reforçar a decisão deles de jamais se curvarem à cobiça, o racismo e discriminação dos sucessivos dominadores, que hoje eles próprios se revelam como os verdadeiros vilões do meio ambiente e do desmatamento no Brasil.
Por fim, a assessoria jurídica da APIB estuda as medidas judiciais cabíveis para conter a onda de ataques racistas, injurias e incentivos à violência intensificados contra os povos indígenas por parte de setores do poder econômico, donos ou representantes do agronegócio.

Pelo direito de viver!Brasília – DF, 16 de janeiro de 2017.Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB Mobilização Nacional IndígenaCom Francinara Soares, Paulo Henrique Vicente Oliveira, Maximiliano Correa Menezes, Sarapó Pankararu, Marcos Sabaru Campos, Maria Paula Fernandes, Marcos Prado, Kleber Karipuna, Dinamam Tuxá, Romancil Gentil Creta,Luiz Henrique Eloy, Lindomar Terena, Lindomar Xokó,Mauricio Guetta, Adriana Ramos,Chicão Terena, Marcos Tupã Mbya,David Karai Popygua, Paulo Trindade, Paulo Gomes, Ediel Terena, Angela Kaxuyana, Puyr Tembé, Yby Porang, Bruno Alexandre, Erisvan Bone

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