Na primeira parte deste artigo tratei de detalhar as razões das emigrações forçadas dos latino-americanos para os Estados Unidos, nas quais os tratados de livre comércio têm muito relação com isso e as constantes renovações do Plano Condor com suas agendas regionais. Mas o que acontece com os imigrantes que conseguem cruzar as fronteiras da morte e chegar a este país, o que os espera?

Não varia muito o tratamento que o sistema lhes dá em relação ao que seu país de origem lhes deu e que consequentemente os abrigou a emigrar; o pária é pária em todos os lados, sem distinção.
Não existe diferença alguma entre Obama e Trump; Hillary Clinton seria a continuidade das políticas de Obama. Os democratas deportaram mais indocumentados do que os republicanos. Obama foi o que mais deportou na história do país; sim, o bom Obama que terminou como uma vergonha e uma enorme decepção para a comunidade afrodescendente nos Estados Unidos e no mundo.
Aqui e agora, em tempo real, o presidente é Trump que em seus pronunciamentos quando era candidato presidencial aterrorizou a comunidade indocumentada, com seus comentários racistas. Trump conseguiu em poucos meses e repetindo o mesmo discurso xenófobo, homofóbico, misógino e patriarcal nos despir como humanidade, e propriamente nos Estados Unidos nos mostrou o quão dividadas estão as minorias.
Colocou na mesa cada um de nossos medos e egos, de nossas arrogâncias e de nossa fragmentação. Porque saiba você que jamais a comunidade LGBTI se pronunciou pelos indocumentados, tampouco os muçulmanos, nem a comunidade afro e muito menos os estadunidenses pobres. Como tampouco os indocumentados pelos LGBTI, nem pelos muçulmanos nem pelos afros. E é assim em tudo. Unidos? Nunca estivemos.
Trump consequirá que nos unamos? Será o terror o que consiga nos sacudir e nos fazer reagir? Agora sim? Vamos ver. Embora eu na verdade não acredite, temos tido muitos oportunidades para ver mais além de nosso nariz e não pudemos ou não tivemos vontade. Pois chegou nossa hora, as minorias se viram expostas individualmente e é necessário que se defendam e talvez que tivessem a capacidade de fazê-lo em conjunto também, pelo puro amor humano e a decência de querer que o outro também tenha os mesmos direitos.
Até o momento, líderes de comunidades de imigrantes que 10 anos atrás organizaram as marchas massivas não se pronunciaram, apenas para apoiar Hillary Clinton mas depois do terremoto Trump esmoreceram e se esfumaçaram da cena pública. Será que é por que perderam os postos de trabalho oferecidos pela candidata? Se em algum momento a Administração Trump decidir eliminar a DACA [Ação Diferida para os que Chegaram durante a Infância, em tradução livre – ampara temporariamente a deportação e concede autorização de emprego para os que imigraram para os EUA antes de completar 16 anos] com isso deixar os “Sonhadores” novamente indocumentados esses aprenderão uma enorme lição de humanidade, consciência, luta, integridade e acima de tudo solidariedade.
Com essa lição aprenderiam que as lutas são feitas para todos e não para uns poucos. Saberiam que a integridade não se compra e não se vende. Que era a Reforma Migratória ou nada e não migalhas pelas que eles se venderam. Saberiam que a DAPA [Ação Diferida para Pais de Cidadãos e Residentes, em tradução livre – ampara temporariamente a deportação de pais indocumentados de cidadãos estadunidenses e residentes legais permanentes e concede autorização de emprego] não eram só para seus pais, também para os milhões que têm seus filhos em seus países de origem e aqui apodrecem trabalhando por esmolas que não chegam a um salário mínimo. O saberiam, claro que sim. Aprenderiam e com sofrimento.
Daqueles “líderes de imigrantes” que dez anos atrás fizeram história, hoje em dia muitos estão de cônsules em seus países de origem e também em postos de governo na Administração Obama, será que agora que ficarão sem trabalho voltarão a fazer greves de fome em frente à Casa Branca exigindo a Reforma Migratória? Ou é capaz que se ponham aos pés de Trump.
Dizem que somos 10 milhões de indocumentados. Agora bem, já nos enganaram: jornalistas, religiosos, artistas, políticos, defensores de direitos humanos, defensores de imigrantes, e todos conseguiram uma boquinha. Já é tempo que esses milhões se façam sentir e se façam ver. O tempo chegou, devemos alçar a voz, devemos exigir uma Reforma Migratória Integral.
Não é tempo para ter medo, para nos escondermos ainda mais nas profundezas das sombras. É tempo sim para lutar pelos benefícios trabalhistas, a permissão de trabalho, o acesso ao sistema de saúde e educação. É tempo para exigir um tratamento humano.
Chegaremos a ter a coragem para fazê-lo? Porque era para ontem…
Tradução do Diário Liberdade