“O mundo está armado e a paz, subfinanciada”, Ban-Ki-moon foi direto ao ponto. Este é o desafio que o Congresso da Paz em Berlim enfrenta. A questão do desarmamento deve ser posta novamente na agenda internacional, o que somente poderá ser feito em uma ação conjunta entre a sociedade e o movimento pela paz.

Essa situação pode ser vista na Alemanha. Com o acréscimo de 2,3 bilhões de euros nas despesas militares, a Ministra da Defesa von der Leyen deixou claro que este é o primeiro passo para que essa despesa atinja 2% do PIB, exigência feita pela OTAN aos países membros e que, no caso da Alemanha, deve atingir 60 bilhões de euros anuais. Esse valor não será atingido sem que as áreas social, educacional e ambiental sofram drasticamente.

 

Joseph Gerson, Xanthe Hall, Reiner Braun e Lucas Wirl em entrevista coletiva.

Joseph Gerson, Xanthe Hall, Reiner Braun e Lucas Wirl em entrevista coletiva.

 

Assembleia Geral da ONU pelo movimento da paz

Reiner Braun, da Agência Internacional da Paz, alerta que esses números nos mostram a importância do Congresso, realizado entre os dias 30/09 e 3/10 na Universidade Técnica de Berlim. A Agência informa que é o maior encontro em prol da paz em 2016, semelhante à Assembleia Geral da ONU, que contou com ao menos 920 participantes de 75 países.

A temática do Congresso abrange os principais desafios que o movimento pela paz enfrenta atualmente, cujas soluções, ainda que parcialmente, precisam ser encontradas.  O conflito na Síria, por exemplo, é analisado em três outros eventos. Desarmamento nuclear, gastos militares e exportação de armas também são temas discutidos durante o Congresso.

O debate, no entanto, vai além das reivindicações pelo desarmamento: aborda meios de transformar a situação atual em algo novo onde o desarmamento defina a agenda e a política.

 

Um olhar coletivo para as questões da guerra

Ao término do Congresso a Agência Internacional da Paz apresenta um plano de ação aos participantes e organizações presentes, o que inclui propostas para ações conjuntas em prol do movimento pela paz. “Ações individuais, iniciativas populares e grupos precisam trabalhar juntos para enfrentar a guerra ”, destaca Reiner Braun. Organizar um dia mundial de protestos pelo desarmamento no próximo ano pode ser um primeiro passo nessa direção.

Essa conferência não é apenas um momento para falar sobre a paz, todos os participantes são convidados a uma ação no sábado 1 de outubro. Na véspera do Dia Internacional pela Não-Violência (aniversário de Gandhi),  1000 participantes formam um sinal da paz, em frente ao prédio da Universidade.

 

O desarmamento nuclear e a proibição de armas nucleares não são atraentes

A questão do desarmamento nuclear e da proibição das armas nucleares pouco atinge a população em geral, ou, de acordo com Xanthe Hall,  membro da IPPNW – International Physicians for the Preventions of Nuclear War (federação médica internacional pela prevenção da guerra nuclear), “essas questões não são atraentes”.  A ideia equivocada de que o perigo de uma guerra nuclear está afastado prevalece desde o fim da Guerra Fria. Na realidade, a chance de um desastre nuclear acidental ou intencional é maior do que nunca. Felizmente, a ICAN tem trabalhado para sensibilizar e mobilizar os jovens  a respeito desse problema.

No entanto, Hall também nos trás noticias agradáveis. Sebastian Kurz, Ministro das Relações Exteriores da Áustria, anunciou no ultimo dia 22, em nome da aliança de 127 países, que a ONU apresentará uma proposta de resolução a respeito da proibição das armas nucleares. A maioria dos votos para essa resolução está garantida e, portanto, no próximo ano, as negociações para eliminar as armas nucleares serão iniciadas. Essa resolução é o resultado da Humanitarian Pledge, endossada por mais de 100 países.

 

Fumantes não determinam as áreas para não fumantes. Este é o trabalho dos não fumantes.

“Há 20 anos existe um bloqueio para o desarmamento nuclear”, explica Xanthe Hall. Com a proibição do armamento nuclear em curso, os países livres de armamento nuclear finalmente têm uma alavanca para superar esse bloqueio e pressionar os países com armas nucleares e seus aliados. A ideia por trás disso é que “fumantes não definem as áreas de não fumantes, elas são definidas pelos não fumantes”.

Braun enfatiza que “em relação às armas nucleares, há uma urgência enorme, mas identificamos também novas oportunidades e a conferência sobre o desarmamento acontece em boa hora”.

Lucas Wirl, do INES – International Network of Engineers and Scientists (organização mundial formada por engenheiros e cientistas, dedicada a promover responsabilidade mundial por paz e sustentabilidade), atua com jovens de diversos países no projeto Youth-Gathering. “Nós não queremos estabelecer uma competição com o Congresso, mas os jovens têm agora a oportunidade de formar uma rede e trocar conhecimento. O objetivo é também capacitá-los a ser politicamente ativos no contexto internacional.” Wirl ressalta ainda que existe um grande atraso nessa atuação.

 

Batalha pela consciência dos jovens

 

Lutamos por liberdade e por medalhas. Forças Armadas Alemã – Instrutor oficial

Lutamos por liberdade e por medalhas. Forças Armadas Alemã – Instrutor oficial

Lucas Wirl reforçou ainda que os militares preferem os jovens como público alvo, pois os consideram a parte facilmente influenciável da população.

A reforma do exército conta com um aumento no investimento em publicidade e um treinamento militar complementar para visitantes da escola e professores.  Essa tendência pode ser nova na Alemanha, mas é uma prática comum nos Estados Unidos já há muito tempo.

“No que diz respeito à juventude, nós literalmente enfrentaremos uma batalha para atrair sua atenção”, conclui advertidamente Wirl, chamando atenção para a campanha dos Jogos Olímpicos, situação em que as forças armadas federais se apresentarão como pacíficas e responsáveis pelos ganhadores das medalhas de ouro.

 

Traduzido do inglês por Karina Rebouças