por Hugo Novotny

Uma das grandes contribuições de Silo[1] à humanidade, senão a maior na minha opinião, foi a horizontalidade do acesso ao Profundo e a internalização das referências.

Isto implica, pela primeira vez na história humana, uma espiritualidade sem sacerdotes, nem hierarquias, um cerimonial que pode ser praticado – e oficiado – por qualquer pessoa, sem preparação nem formação prévia, contando somente com o texto da cerimónia e realizá-la com o melhor do seu coração. Assim, como a prescindibilidade de todo o mestre físico, externo, substituído pelo guia interno configurado ou revelado pelo próprio trabalho pessoal, incluso para o Propósito supremo do contacto com o Sagrado, o Inominável.

Ao longo das civilizações e épocas estas funções foram cumpridas por entidades distintas. O Xamã reunia em si todas as funções: sacerdote, bruxo, curandeiro, conselheiro, educador, para a família, tribo ou povo a que servia.

À medida que se foi complexificando a organização social, estas funções foram-se distribuindo entre diferentes pessoas. Mesmo quando, no caso da medicina, houve sempre uma íntima ligação entre a religião e as cosmogonias mais importantes: a religião védica e a medicina Ayurveda, o taoismo e a medicina chinesa, o budismo e a medicina tibetana, a espiritualidade Tiahuanaco e os Kallawallas andinos, etc.

Com o avanço do positivismo, a ciência foi-se afastando aceleradamente da espiritualidade, surgindo a dialética ciência-religião tão própria da civilização ocidental dos últimos séculos. Fenómeno que também afectou a medicina, avançando para uma crescente especialização em compartimentos estanque, perdendo-se a qualidade da integralidade e também o vínculo com o psicológico, o afectivo e o espiritual, subordinados à supremacia da tecnologia e o “critério da verdade” ditado pelos laboratórios farmacológicos multinacionais.

Mas já nas últimas décadas do nosso tempo, à medida que uma crescente necessidade de renovação espiritual começa a sentir-se nas pessoas e a generalização da internet e das redes sociais, põem à mão de grandes conjuntos o acesso à memoria colectiva de todas as épocas e culturas, esta situação começa a modificar-se. O “doente” pode agora dispor dos conhecimentos e experiências de muitos que passaram pela mesma situação e de grande quantidade de opções entre as quais escolher para afrontar a sua disfunção e superar a dor que experiencia. Ao mesmo tempo que vai emergindo novamente a certeza vivencial, suportada por inumeráveis testemunhos pessoais, de que “tudo está relacionado”; o corpo e a mente, os afectos e as dolências, a doença e a energia que se bloqueia ou acumula.

Neste contexto irrompe a Mensagem de Silo, com a sua horizontalidade do acesso ao Profundo e internalização das referências. Com a cura do sofrimento, um caminho de superação da dor e do sofrimento em si mesmo, no próximo e na sociedade humana. Com seu amor ao corpo, a natureza, a humanidade e ao espírito[2]. E a sua concepção psicológica de uma consciência activa, intencional, construtora de realidades dignas de serem amadas [3].

Nesta nova atmosfera espiritual é agora possível intuir um novo conceito de cura intencional, de auto-cura; na qual o rol activo de quem sofre uma disfunção física, a sua intenção de superar a dor e o sofrimento a ele ligado, adquirem um protagonismo decisivo. Sem negar o beneficio que pode contribuir a essa tarefa o avanço da ciência e da tecnologia, a pessoa está agora em condições de escolher entre diferentes opções de tratamento e tomar o leme do seu próprio processo, assistida por médicos e outros trabalhadores de saúde que o ajudem a alcançar o seu objectivo.

Nesta atmosfera espiritual é também de muito significado o apoio e acompanhamento de outros entes queridos, que tanto como ele querem a sua cura. O âmbito cerimonial da Mensagem resulta do mais propício para clarificar e fortalecer, tanto o próprio Propósito como o apoio afectivo-energético do seu meio imediato.

 

Hugo Novotny. Investigador do Parque de Estudo e Reflexão “Carcarañá”, Argentina. Membro da Comunidade da Mensagem de Silo. Mail: hugonov@gmail.com/Web: www.parquecarcarana.org

[1]   Silo: pseudónimo literário do pensador, escritor y guia espiritual Mário Luís Rodríguez Cobos
(Mendoza, Argentina, 1938-2010) www.silo.net

[2]   A Mensagem de Silo www.silo.net/es/message/index

[3]   Silo. Apontamentos de Psicologia www.silo.net/es/collected_works/psychology_notes

Tradução: Djamila Andrade