Entrevista a Johana Roimero, secretária geral de FENAS e estudante do Colégio Técnico Nacional.

Pressenza – Primeira ocupação quando iniciou?
Johana – Espere aí, estou tentando lembrar as datas. Acho que foi em primeiro de maio.

Pressenza – Por que começaram as ocupações? Quais foram os motivos?
Johana – A primeira ocupação começou porque queríamos a renúncia da ministra Marta Lafuente. As duas organizações (a “FUNART” e a “UNEPI”) estavam pedindo a sua renúncia há mais de um mês e como não conseguiram, a organização dos estudantes que se chama “ONE” decidiu ocupar o colégio “República da Argentina” e todos nós em sinal de apoio começamos a ocupar os colégios. Chegamos a 130 colégios ocupados em nível nacional. Nós queríamos fazer isto porque não gostávamos da gestão da ministra Marta Lafuente, porque no ano passado ela prometeu muitas coisas e não cumpriu os compromissos que ela assumiu. Além disso, somos um lugar que investe pouco em educação e nosso sistema de ensino é considerado o pior do mundo e isso nos desagradava. Outra coisa é que não se vê muita transparência e respeito ao orçamento que o ministério tem, ou seja, nunca chegaram os produtos da “plata” (dinheiro) que nós sabemos que o ministério tem. Então como nós pacificamente nos opusemos a isso, tivemos que ocupar os colégios. A nível nacional 200 colégios foram mobilizados, e 130 deles foram ocupados oficialmente pelos estudantes.
Pressenza – Gostaria de saber se não pode falar um pouco mais, obrigado. Então, a má gestão do governo que acontece há algum tempo, você falou que eles prometeram algumas coisas, quais foram as promessas? Manutenção, alimentos ?

Johana – No ano passado, em 18 de setembro, durante a”primavera estudantil”, fizemos uma grande mobilização, lá conseguimos que 4 colégios recebessem merenda escolar completa e também nos prometeram que o orçamento para a educação seria maior. O produto interno bruto aumentou de apenas 0,2 por cento para 3,9 por cento. Também nos prometeram que iriam consertar as escolas que estavam caindo, que mais escolas teriam almoços e um monte de coisas que jamais cumpriram.

Pressenza – Então este processo começou no ano passado durante a “primavera dos estudantes”?

Johana – Então, este ano decidimos ocupar as escolas, mas para exigir a renúncia da ministra e todo o seu gabinete, isto é, todos aqueles que ocupam cargos importantes também. E isso não é visto, ainda seguem as mesmas pessoas.

Pressenza – Você disse que começou em maio. Por quanto tempo aconteceram as ocupações?

Johana – Por oito dias em nível nacional, o colégio Fernando da Mora e o colégio Presidente Sánchez foram ocupados por nove dias.

Pressenza – Estávamos lendo e nos falaram que há movimentos estudantis que se unificaram e que representam este movimento. Sabe quais são estes movimentos?

Johana – Sim, eu, Johana Romero, sou secretária-geral da FENAES, que é a federação nacional dos estudantes secundáristas. As outras duas associações de estudantes são a “ONES”, que é a organização nacional de estudantes e a terceira é a organização “UNEPI”, que é a União Nacional de Centros Estudantis do Paraguai. Entre as três organizações nos unimos e nos comunicamos em conjunto com as escolas mobilizadas, incluindo aquelas que não estavam com nenhuma das organizações mencionadas .

Pressenza – Como em geral este movimento aconteceu? A imprensa cobriu as manifestações? Estava atenta ao que se passava? Falemos um pouco sobre a maneira que a imprensa cobriu o movimento e se escutava as exigências dos estudantes.

Johana – Da parte da imprensa tivemos muita atenção, muito apoio, estivemos em todos os canais de televisão, embora alguns meios de comunicação diziam que os argumentos dos estudantes para pedir a renúncia da ministra eram vagos. E uma vez que conseguimos a renúncia da ministra, solicitávamos uma nota de compromisso com a assinatura do presidente, e eles disseram que se seguíssemos com as ocupações iríamos perder as aulas do ano letivo. Então, tivemos apoio da imprensa em geral, mas haviam algum que diziam que nós fazíamos isto para perder as aulas do ano letivo.

Pressenza – Destas exigências algumas delas se concretizaram? O governo se comprometeu com elas?

Johana – Nós conseguimos que o presidente, Horacio Carter, assinasse uma carta de compromisso que tinha três reinvidicações de todos os estudantes, porque como lhe disse nos unimos (todos os estudantes) através das organizações que eu expliquei. Essas três propostas, reivindicações, os pontos negociáveis, eram: em primeiro lugar que se revogasse uma resolução que é a 4613 que tirou autonomia dos centros estudantis; em segundo lugar que se declarasse emergência a nível nacional do âmbito da infra-estrutura educacional, porque os edifícios aqui estão a ponto de cair. E em terceiro lugar que se formem, se criem grupos de trabalho entre os estudantes, o ministério da educação, o ministério da fazenda e os presidentes das comissões de educação da câmara dos deputados e de senadores. Teremos uma reunião hoje dessa mesa de trabalho ao meio- dia. A resolução já foi eliminada e se aprovou uma que nós havíamos aprovados no ano passado. Já declararam emergência e agora vão elaborar uma lei que diz o que vai ser feito durante o período de emergência. Ou seja, até agora estão cumprindo tudo, mas não são muito concretos.

Pressenza – Havia comunicação entre as escolas? Como acontecia esta comunicação?

Johana – Sim, nós tínhamos um grupo que ia visitando rotativamente uma vez por dia os colégios ocupados, um dia o colégio técnico, por exemplo. No dia seguinte o Fernando. No dia seguinte o liceu experimental Paraguai-Brasil. E assim iam revezando para ver se necessitavam de palestras motivacionais, se eles precisavam de alimentos, por quanto tempo pensavam em continuar as ocupações e coisas assim, ou seja havia uma constante comunicação entre nós e os respresantantes da “FENAES” também se comunicavam conosco, e com os representantes da “ONE” e da “UNEPI” e diziamos se seus colégios também teriam força para continuar. Por isso conseguimos que quase todos os colégios seguissem a ocupação até o fim.

Pressenza – O que se aprendeu com isso? O que você pensa?

Johana – Perseverança, porque várias vezes tentaram desocupar, e mais, apresentaram denúncias contra nós tentando criar diferenças onde não existiam, tentaram convencer o país que estávamos perdidos, um montão de coisa fizeram para pararmos e nós não paramos. Outra coisa que aprendemos foi a experiência, saber que as coisas que merecemos se conquista lutando e depois, óbvio que tem que estar todos unidos e que a educação é o futuro do país.

Pressenza – Todo este processo foi algo novo para o Paraguai?

Johana – Bem, no ano passado se ocupou o colégio San Martin por 17 dias, essa foi uma das primeiras experiências. Aliás, alguns companheiros da “FANES” também ocuparam o ministério da educação e da cultura. Mas nunca jamais ocuparam 130 colégios simultaneamente e tivemos mais de 200 colégios mobilizados, porque havia colégios privados que não podiam ser ocupados, então faziam jornadas de reflexão ou saíam em manifestações ou colocavam um cartaz de apoio, um comunicado ou coisas assim, foi a primeira grande experiência em nível nacional.

Pressenza – Teve um grande apoio por parte da população? Houve pessoas que se opuseram ao movimento?

Johana – Sim, havia alguns estudantes, que eram como 30, que estavam contra as mobilizações, mas obviamente a maioria estava de acordo com o movimento. Então se decidiu o que a maioria quis, também havia alguns pais que se opunham, mas claramente era a minoria, sempre quase todos estavam de acordo com nossas decisões.

Pressenza – A ministra Marta Lafuente renunciou. Agora vocês têm um novo ministro da educação, Enrique Vera. O que pensam sobre ele? Estão felizes com o novo ministro?

Johana – Nós cremos que o novo ministro é uma pessoa com quem se pode trabalhar, já tivemos algumas reuniões com ele e parece ser uma pessoa aberta com a qual podemos negociar, ainda estamos esperançosos com a sua reação, demos a ele um voto de confiança, e esperamos que ele não nos decepcione. Se enxergarmos algum erro em sua administração, nós não temos medo de voltar às ruas, queremos ver transparência no ministério, não queremos apenas palavras da boca para fora, porque as palavras o vento leva. Quando os estudantes se mobilizam podem gerar mudanças importantes.

Pressenza – Bom, para finalizar. Gostaria de deixar alguma mensagem para a agência Pressenza ou alguma mensagem para os estudantes do Brasil?

Johana – Bem, em primeiro lugar quero pedir força, porque todos os países têm os seus problemas. Que nunca se cansem de exigir uma educação melhor porque isso foi o que nós fizemos e se não tivéssemos feito não haveria produzido nenhuma mudança, creio que esta seja a principal mensagem. Muito obrigada por seu apoio, creio que o Brasil foi um dos países que mais esteve presente em nossa mobilização.

Entrevista: Leonardo Nascimento e Tarcilla Thais

Tradução: Leandro Sena Lara