Comunidades impactadas advertem contra o desencadeamento de mais violência pelo ódio racista anti-muçulmano.

Por Sarah Lazare / AlterNet – Tradução César Locatelli

O terrível tiroteio em massa, de domingo de manhã, em uma discoteca Orlando, Florida está sendo recebido com luto, indignação, desgosto e solidariedade internacional, bem como com palavras de cautela contra o desencadeamento de novos ciclos de violência pela incitação anti-muçulmana e xenófoba.

Cerca de 50 pessoas foram mortas e 53 feridos, quando um homem abriu fogo no clube Pulse, no meio do mês do Orgulho Gay. O atirador, identificado como Omar Mateen, cidadão dos EUA, foi morto pela polícia. Os relatórios indicam que Mateen mencionou ISIS, em uma chamada que fez ao número de emergência 911, durante o ataque, mas a informação ainda está sendo averiguada.

Cindy Wiesner, uma homossexual (queer) descendente de latinos, residente em Miami e coordenadora nacional para Grassroots Global Justice Alliance, disse AlterNet, “Estou tão triste e irritada com as vidas perdidas sem sentido, feridos e uma comunidade que será permanentemente marcada. Eu me preocupo com a incitação ao ódio e à vingança que Trump e os seus irão produzir. Será que ele vai agora, oportunisticamente, defender a vida dos latinos e das pessoas LGBT ou somos apenas efeitos colaterais?”

A Aliança Muçulmana para a Diversidade Sexual e de Gênero, que trabalha para apoiar e capacitar LGBTs muçulmanos, declarou em um comunicado divulgado no domingo, “Essa tragédia não pode ser simplesmente classificada como uma luta entre a comunidade LGBT e a comunidade muçulmana. Como LGBTs muçulmanos, sabemos que existem muitos de nós que vivem nas intersecções das identidades LGBT e Islam. Em momentos como este, somos duplamente atingidos”.

“Nós rejeitamos as tentativas de perpetuar o ódio contra nossas comunidades LGBT, bem como contra nossas comunidades muçulmanas”, continua o comunicado. “Pedimos a todos os americanos para resistir às forças de divisão e ódio, e para se manter contra a homofobia, tanto quanto contra a Islamofobia e o fanatismo anti-muçulmano”.

Em um vácuo de informação, os meios de comunicação e os políticos estão especulando sobre laços de Mateen com organizações terroristas, com Bill Nelson, senador pela Florida, insinuando que Mateen tinha ligações com ISIS, admitindo que tal informação não está confirmada. O jornal USA Today tuitou uma notícia ultrajante em relação aos pais de Mateen, que nasceram no Afeganistão, afirmando: Omar Mateen “era um cidadão EUA, mas alguns de seus familiares não são.” Tal resposta vem em meio a uma eleição marcada por incitamento anti-muçulmano, acompanhado por um aumento nos crimes de ódio Islamofóbico.

O candidato republicano á presidência, Donald Trump – que propôs a expulsão de muçulmanos não-americanos, a morte dos familiares de membros da ISIS, a pressão para forçar o México para construir um muro e a deportação de milhões de imigrantes – esta usando, oportunisticamente, o massacre se gabar de que ele está “certo sobre terrorismo islâmico radical”.

Enquanto isso, Hermelinda Cortes, da organização libertação homossexual Southerners on New Ground, disse à AlterNet que essa retórica racista e xenófoba ainda corrói a segurança das pessoas LGBT, muitos dos quais estão em situação irregular, refugiados, muçulmanos e negros. Cortes enfatizou que o ataque em Orlando é “parte de um movimento maior e de uma reação cultural contra a luta LGBT para serem livres”, citando a lei radicalmente anti-LGBT da Carolina do Norte. “Estamos encarando esse ataque nesse contexto e não o vemos como um incidente isolado.”

Como no caso em questão, enquanto há uma necessidade urgente de doações de sangue, muitos homens homossexuais e bissexuais são impedidos de doar devido às regras discriminatórias da FDA (agência equivalente à Anvisa).

Muitos argumentam que esse doloroso momento requer solidariedade e uma resposta mais matizada.

“A homofobia, transfobia e patriarcado mata em uma base diária,” Darakshan Raja, fundador do Fórum Político Muçulmano Americano de Mulheres, disse AlterNet. “Todos nós temos que intensificar nosso apoio as comunidades LGBT e acabar com a violência”.

“Ao mesmo tempo, precisamos ter cuidado com a narrativa em torno do atirador,” Raja continuou. “Islamofobia não vai lutar contra a homofobia/transfobia, especialmente quando estes sistemas estão interligados.”

Ashley Green, organizadora, residente em Tampa Bay, da Dream Defenders, concorda. “Ver nossos irmãos e irmãs tornarem-se alvos por conta de quem amam é triste e trágico,” Green disse à AlterNet. “Nós precisamos rejeitar a homofobia e a Islamofobia. Uma forma de ódio não pode justificar o outro.”

A organização Equality Florida observou, em um comunicado divulgado domingo de manhã, que os “clubes gays ocupam um lugar significativo na história LGBT. Eram muitas vezes o único local de encontro seguro e esse ato terrível atinge diretamente nosso sentimento de segurança. Junho é o mês de comemoração em nossa comunidade, que nos levantamos contra a violência anti-LGBT no Stonewall Inn, a boate que se tornou o primeiro local LGBT, reconhecido como um monumento nacional”.

“Estamos de coração partido e com raiva”, afirmou a organização, “que a violência sem sentido destruiu vidas mais uma vez em nosso estado e em nosso país.”

Fonte: JORNALISTAS LIVRES – Mídia democrática, plural, em rede, pela diversidade e defesa implacável dos direitos humanos.

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