Eu sou mãe e voz do meu filho

Elas se apresentam com a mesma frase que já virou grito coletivo: “Eu sou mãe e voz do meu filho.” São mulheres que tiveram suas vidas atravessadas pela violência do Estado, perderam filhos para a brutalidade policial e, mesmo diante do abandono, se recusam a silenciar.

Em diferentes bairros e favelas do Rio de Janeiro, e em tantas outras cidades do país, essas mães se organizam, criam estratégias de acolhimento, constroem redes e seguem lutando por justiça, reparação e dignidade. O que começou como um sopro de sobrevivência, tornou-se um movimento articulado de memória, denúncia e justiça.

Redes que nascem do luto

Em cada território surgem coletivos como Mães de Manguinhos, Mães do Jacarezinho, Mães de Acari, Mães da Maré, Mães de Brumadinho…é um volume absurdo de mortes e de mães órfãs de filhos. Segundo o relatório semestral do Instituto Fogo cruzado, foram 504 ocorrências com o envolvimento de agentes do Estado, no primeiro semestre de 2025, um número recorde desde 2017. O número de pessoas baleadas também cresceu. Foram 816 vítimas, 406 mortas e 410 feridas. Em comparação com o mesmo período de 2024, uma verdadeira guerra civil.

Dessas experiências locais nasceu a Rede Nacional de Mães e Familiares Vítimas de Violência do Estado, que integra movimentos de várias regiões do país, que se prepara para novas ações conjuntas, como a audiência pública em Brasília, no próximo dia 14 de outubro, no Ministério da Justiça. Essas articulações são movidas pela determinação de mulheres que não aceitam que a morte de seus filhos, sejam reduzidas às estatísticas.

Foto: Marina S Alves

Memória como resistência

Manter viva a lembrança dos filhos é um ato político. As mães insistem em contar quem eles foram: crianças e jovens com sonhos, afetos e histórias próprias e não apenas números em relatórios de violência.
A cada encontro, constroem uma cartografia da memória, tecida por afeto e coragem, que se recusa a deixar que essas vidas sejam esquecidas.

Essas mulheres seguem sem reparação e sem justiça, mas sua voz ecoa cada vez mais alto. Ao transformarem luto em luta, memória em denúncia e amor em mobilização, elas lembram ao país que a vida de seus filhos importa — e que esquecer não é opção.

Foto: Marina S. Alves

Arte que acolhe e convoca

É nesse contexto que surge a exposição Amamentamos esse país, da fotógrafa, artista visual e Educadora, Marina S. Alves, fruto de cinco anos de pesquisa, escuta e convivência com quatro dessas mães: Mônica Cunha, Bruna da Silva, Nívia Borges e Nádia dos Santos.

A mostra, em cartaz no Retrato Espaço Cultural (Rua Benjamin Constant, 115A, Glória – Rio de Janeiro), é um manifesto multimídia de memória e insurgência. Por meio de fotos, sons e relatos, onde o público é convidado a conhecer quem foram esses jovens em vida — e a sentir a presença de suas mães como coautoras da obra.
“Eu não criei o trabalho sozinha, elas assinam comigo”, afirma Marina.

Até 28 de setembro, a exposição recebe visitantes e promove encontros guiados com as mães, oportunidades para ouvir diretamente suas histórias e se somar a essa rede de solidariedade.
Os próximos encontros com as mães acontecem nos dias 15 e 28 de setembro, às 14h.

A exposição também organiza visitas guiadas. É só agendar pelo número (21)99545 8156

ONDE: Retrato Espaço Cultural – Rua Benjamin Constant, 115A/Glória – RJ
QUANDO: Até 28/09
Quarta a sexta – 17h às 21h
Sábado e Domingo – 13h às 22h

Para mais informações, Adriana Baptista (21)99545 8156, a autora deste texto.