Em todos os países do mundo, há protestos e manifestações de pessoas que não concordam com certas decisões tomadas pelos seus governos. Na Europa, vimos isso em França, no Reino Unido, na Holanda, na Alemanha e em outros países. Na França, os Gilets Jaunes (Coletes Amarelos) realizaram marchas de protesto durante meses, enquanto na Holanda e na Alemanha foram os agricultores que se uniram para protestar em massa.

Na França, a violência das forças policiais foi extrema.

Na Itália, grandes marchas de protesto ocorreram contra o rearmamento e a prolongação da guerra na Ucrânia, exigindo negociações de paz.

Na Holanda, ocorreu um protesto massivo de mais de 100 mil pessoas, todas vestidas de vermelho, para exigir que o governo denunciasse o genocídio israelita contra os palestinos de Gaza e parasse de apoiar Israel. A organização Amnistia Internacional contava apenas 3 mil pessoas.

Em todos estes casos, as manifestações surgiram diretamente da necessidade das pessoas de expressarem a sua insatisfação, ou mesmo a sua raiva, em relação aos seus governos, que, por sua vez, não ficaram muito felizes com esses protestos.

Essas manifestações não puderam ser controladas pelas instituições tradicionais, que não tiveram outra escolha senão juntar-se às manifestações ou manter-se à margem das mesmas.

No caso da França, houve muitas vítimas, por exemplo, muitas pessoas perderam um olho devido às balas de borracha disparadas pela polícia anti-motim.

Todas estas manifestações, e muitas outras que não vou citar aqui, foram não violentas e pacíficas. E, como temos democracia e liberdade de expressão, os governos não puderam fazer muito para as impedir. Mas também não deram ouvidos aos pedidos da população, porque os seus programas não coincidem com as necessidades do povo. A insatisfação cresce, portanto, e corremos o risco de assistirmos a manifestações cada vez mais frequentes e numerosas.

Na Alemanha, as decisões destrutivas tomadas pelo governo nos últimos três anos tiveram consequências negativas para a população e muitas pessoas decidiram, por isso, votar nas últimas eleições legislativas no partido da “Alternativa para a Alemanha” (AfD), um partido de extrema-direita. Na verdade, quase toda a Alemanha Oriental, a antiga RDA, votou na AfD, que se tornou no segundo partido do país. E, agora, o governo recém-eleito, com base no partido CDU (a União Democrata Cristã alemã) e no seu novo chanceler, quer encontrar uma forma de proibir a existência da AfD. Isto está a acontecer numa das maiores democracias europeias!

Podemos facilmente confirmar que as populações da União Europeia não estão nada satisfeitas com o que se passa à sua volta e nas suas vidas, com um aumento constante da pobreza como consequência das decisões dos seus governos. E, para piorar ainda mais a situação, os nossos governos estão a preparar-nos a todos para aceitarmos a militarização da sociedade e um rearmamento sem precedentes, com o argumento de «nos defendermos da ameaça russa».

Neste clima de loucura crescente da política de Bruxelas e da maioria dos Estados-Membros da UE, esta mesma UE, liderada pela Comissão Europeia e pela “rainha” Ursula von der Leyen, interfere constantemente nos países da Europa Oriental e do Sul que (ainda) não fazem parte dela. Organiza manifestações contra os governos locais, quando isso interessam à UE e à OTAN.
Há sempre pessoas de boa vontade, que não estão satisfeitas com o seu próprio governo, mas na maioria das vezes por razões relacionadas com o desejo de beneficiarem das supostas vantagens de pertencerem à UE, vantagens essas que lhes são sugeridas pela ação de agências estrangeiras disfarçadas de ONG. Agências estrangeiras que criam ONG nacionais financiadas por elas, que depois formam voluntários com o objetivo final: que o seu país se torne membro da UE e que bases da OTAN possam ser instaladas no seu território para o defender contra … sim, contra a suposta “ameaça russa”.

É o tipo de manifestações orquestradas que estão a decorrer por exemplo na Sérvia e na Geórgia.

Na Sérvia, o governo absteve-se de enviar a polícia anti-motim ou a polícia para atacar os manifestantes. Como resultado, os manifestantes atacaram o edifício do Parlamento, causando muitos danos. Portanto, não foram nada pacíficos…
Em França, o governo enviou a polícia anti-motim contra os coletes amarelos; Na Sérvia, o governo absteve-se de o fazer. Tirem as vossas próprias conclusões.

Todos sabemos o que aconteceu em 2014 em Kiev. Mas o formato foi o mesmo: Desestabilizar um governo em funções só porque ele queria manter boas relações com a Rússia. Nesse ano, na Ucrânia, os protestos organizados a partir do estrangeiro conseguiram provocar um golpe de Estado muito violento que levou ao poder nacionalistas de extrema-direita. E estes continuam no poder ainda hoje.

Portanto, estes últimos são exemplos que não têm nada a ver com a defesa da democracia ou dos direitos humanos. Nem na Ucrânia, nem na Geórgia, nem na Sérvia. Tem tudo a ver com a UE e, aliás, com os Estados Unidos, desejosos de meter as suas mãos nesses países e de os incorporar na fortaleza UE/OTAN…

Se pegarmos no caso da Roménia, o exemplo mais recente, podemos ver a total contradição e hipocrisia em ação. A Roménia já é membro da UE e tem uma base militar da OTAN. Até agora, tudo bem. Mas nas últimas eleições presidenciais, um candidato de direita venceu o primeiro turno com grande vantagem. O governo apressou-se em anular esta eleição porque o homem foi acusado de estar em vantagem graças a uma campanha eleitoral manipulada através do TikTok. As eleições tiveram que ser repetidas, e o homem foi excluído das mesmas. Tudo isto foi feito sob pressão de Bruxelas, porque, se este candidato tivesse ganho na segunda volta, haveria um novo presidente anti-UE e pró-russo: Isso teria sido um desastre para a UE e a OTAN. Mas, afinal, com a repetição das eleições e a exclusão do candidato favorito, eles acabaram nos últimos dias por conseguir o que queriam.

Isso mostra mais uma vez que não se trata de democracia e direitos humanos, mas de ter a pessoa certa e o governo certo no poder para fazer o que Bruxelas e os Estados Unidos querem que eles façam. No caso da Ucrânia, trata-se de um governo nacionalista de extrema-direita; na Roménia, trata-se de manter o status quo de um presidente e de um governo pró-UE e pró-OTAN.

Na Sérvia e na Geórgia, o objetivo é o mesmo: livrar-se de um presidente e de um governo pró-Rússia em favor de um presidente e de um governo pró-UE e pró-OTAN.

Nestes três casos, foram agências estrangeiras disfarçadas de ONG que prepararam o terreno. O mesmo na Ucrânia, aonde já foram investidos milhares de milhões de dólares americanos para esse fim desde 2005.

Não há dados publicados sobre as quantias investidas na Geórgia e na Sérvia, e desde quando. Mas é fácil de imaginar que os montantes investidos não serão muito diferentes dos da Ucrânia.

Por tudo isso, é importante saber distinguir entre protestos genuínos e não violentos de grupos importantes da sociedade e aqueles que são orquestrados e manipulados por agências muito próximas dos governos ocidentais e fortemente financiadas por eles. Caso contrário, acabamos por apoiar e aplaudir protestos que nada têm a ver com a vontade da maioria de um povo, mas sim com a vontade dos centros de poder ocidentais.


Peter Noordendorp

Peter Noordendorp, autor e investigador humanista do Humanismo Universalista, vive em Amesterdão, Países Baixos.