Moema Viezzer, reconhecida educadora socioambiental, falou do Festival das Águas com Maria Régia no programa de rádio Natureza Viva. Partilhamos a seguir alguns trechos da sua fala e deixamos no final desta nota o áudio completo da entrevista.

Maria Régia: —Agora rumo às comemorações da data máxima, 22 de março, dia Mundial da Água, nós vamos conversar com uma grande educadora, uma pessoa que tem sua vida voltada para o ativismo, não só no feminismo, mas também no ambientalismo. Falo de Moema Viezzer, ela que é educadora socioambiental e que está envolvida como parte da organização de um evento memorável que acontece em Brasília já nos próximos dias 22 e 23 e  que faz parte do movimento que reúne 100.000 jovens pela água. Esse movimento está intimamente ligado à rede ecumênica da água, da qual a nossa querida Moema faz parte. Que prazer tê-la aqui para navegar junto com a gente as ondas do rádio. Diga lá, Moema, bem-vinda.

Moema Viezzer: —Muito obrigada por esse convite, Mara. Eu estou trabalhando à distância a partir de Toledo, mas é muito legal porque eu acho que é uma forma da gente segurar essa articulação que não fica concentrada nas grandes sedes do país, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Salvador, né?

A gente quer reunir jovens das aldeias, das cidades, do campo, de toda parte entendendo e se informando, se formando e se articulando em pro do cuidado das águas, que é uma das grandes questões a ser enfrentadas nesse momento de mudanças climáticas, né?

—Agora, esses 100.000 jovens ao redor do mundo ou só do nosso Brasil?

—”100.000 jovens pela água” inclusive nos veio de uma organização global que se chama Ágora dos Habitantes da Terra e foi no contexto de uma grande luta global que nós estamos enfrentando, que é tirar a água da bolsa de valores, que é um dos grandes, grandes problemas que as corporações inventaram. Além dos grãos, agora também inventaram de ter a água como algo totalmente mercantilizável, né? E aí foi feita essa proposta de 100.000 jovens como uma coisa simbólica, de ter muitos jovens que se informam, que se formam e se articulam e entendem, como a água pode se tornar um grande tema gerador de mudanças que nós precisamos nesse momento de crise climática. Então, aqui no Brasil, o movimento tem esse nome.

A gente já sabe que existem mais de 100.000 jovens empenhados no cuidado das águas em diversos movimentos, mas a nossa proposta é que isso pode ser um grande mote das novas gerações para se unirem globalmente, em torno de uma mudança do jeito de ser entre nós, conosco mesmo e principalmente com a Mãe Natureza.

A gente já tem propostas para 2025. Uma delas é a nossa participação na Cúpula dos Povos, na COP 30, que vai acontecer aqui no Brasil (em novembro deste ano).

Também estamos oferecendo curso sobre o tripé em que se baseia o movimento que vem da rede ecumênica da água, que é tratar a água como um ser sagrado com direito humano e um bem comum.

­—Esse ano o tema escolhido para as comemorações do Dia Mundial da Água é Preservação das Geleiras para alertar justamente a população para o papel fundamental delas na manutenção da vida e do ciclo da água que vem sofrendo descontinuidade em razão do aquecimento global, né?

—Exato. É tanta coisa triste que está acontecendo, por conta do degelo das montanhas, né? Ali nos Andes, por exemplo, muitas comunidades vivem do degelo da neve e não vai tendo mais, já está começando a ficar tudo sem gelo. E por outro lado, tudo o que está acontecendo lá no Ártico e no Antártico também, está nos mostrando o quanto grave é essa questão do aumento das águas dos oceanos por conta do degelo das geleiras. É uma coisa que a gente não aprendeu a estudar isso do jeito que tinha que ser, né?

—Eu achei uma ideia genial que no cortejo dos encontros, principalmente do encontro das águas, o evento tá chamando convidados a levarem vidros com água de córregos, rios, lagos. Que é que vocês pretendem fazer com essa água? Beber, comer, enfim, plantar, o quê?

—Eu vou levar água também daqui de um córrego que a gente está cuidando há  20 anos para que não seja apropriado por imobiliárias, né? E o que a gente vai fazer é levar, vai e juntar tudo e as mulheres sagradas é que vão dar destino a essa água que vai ser sagrada. Eu não sei bem ainda onde é que elas vão colocar o que vão fazer.

—Nossa, que beleza! Eu já sei que Vô Selma vai saudar as sereias fazendo uma homenagem às entidades afro-indígenas, como Orixás, Oxum, Iemanjá, enfim, divindades das águas. Que celebração! É a nossa cultura, é a nossa raiz, são as rezas, bençimentos, é tudo que a gente precisa para amenizar os horrores desses tempos de guerra e de devastação, né?

Então, eu quero ir me despedindo de você, mas deixando os microfones à sua disposição para um recado final, minha amiga.

—Como mensagem final, Mara, o que eu considero o mais importante que esse festival deixa, é como nós precisamos de um trabalho intergeracional para passar o melhor que nós temos e conhecemos e fazemos para o cuidado das águas como algo importantíssimo nesses tempos de mudanças climáticas. E é uma das formas mais concretas da gente estar claramente contra o negacionismo e contra todas essas formas de dominação e exploração da natureza que acabam com todos nós, os habitantes da terra humanos e não humanos.