Esta é uma carta sobre a passagem do meu corpo na UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – ou somente Rural– com ensaios e contos sobre o que por mim foi vivido nesta época.

A ideologia dominante é organizada pelo Estado para que as indústrias existentes, em cada formação social, possuam espaços que possam ser facilmente encontrados com o computador de mão, chamado até hoje de celular ou com a novidade do iphone.

Mas aqui falo de um tempo que o violão, as canções, as posições políticas e os estudos ainda valiam mais, ainda que hoje passaram a custar muito e não seria, assim como não é possível comprar. Então vou tentar me aproveitar do ambiente criado e publicarei, se permitido for, no espaço que ainda me animo de chegar com PRESSENZA.

Essa é uma carta que será jogada às nuvens como se faz com a cinza do corpo que se vai. Por enquanto o corpo ainda está aqui e há sobre o que o cérebro, com ajuda do intestino, ainda possa resgatar. Quase nada, mas ainda por um tempo, que pode durar ou acabar na esquina, possa recordar. Esquina, aliás, era um termo muito presente em canções de cariocas e mineiros.

Bem, se consigo me lembrar, cheguei na Rural em 1985. Foi na Rural que conheci, com a passagem dos ventos que impulsionavam nuvens, que não são as que jogo essa carta, Paulinho Pedra Azul e sua obra de arte JARDIM DA FANTASIA, que até os dias atuais guardo raios de lembranças sem conseguir tocar como antigamente no violão.

Tá, estava na Rural quando o meu filhobrinho mais idoso nasceu, produzido do mesmo útero da amada Denise que o corpo também ultrapassou está dimensão, assim como o corpo do menos idoso que também marcou com ênfase meu cérebro com a inteligência do amor.

Lembrado pelo impulso da potência dos neurônios e pela criativa sabedoria das partes que nas canções unificam músicas com poesias, hoje resolvi escrever na “primeira pessoa”. Não lembro da última vez que escrevi em primeira pessoa … nem no livrinho lançado durante a pandemia do século XXI chamado ROSA, FAMA E METAMORFOSE – Ensaios para a potência humana criativa – que está em meu nome, eu o fiz.

Como nas tais nuvens da tecnologia contemporânea há muitas letras e poucas leituras, já “escrevo na pedra” que quem viveu esse tempo na Rural lembrará que convivemos no cenário que foi no quilômetro 47 e trouxe o quilômetro 49 para as nossas vidas.  Terei prazer de recordar e presentear cada um com um exemplar do livrinho e dedicatória, basta sinalizar que o farei.

“Vejam essa maravilha de cenário, feita para enganar o bicho otário que chega aqui e se amarra na Rural sem conhecer a fama da geral”… Pois é, neste tempo atual com hegemonia da ignorância nem lembrar consigo muito com os rasgos no crânio. Mas fui impulsionado pelos ventos da corrida do Thoth (meu gato de pelagem bege escura e olhos azuis) para escrever essas junções de letras e publicar em PRESSENZA com o nome de Carta.  Muito me anima a lembrança que com essa frase nas aspas a poesia se encontrou com uma música já existente e unificou e mobilizou muitas pessoas e novas outras juntaram e juntaram novamente, afinal estávamos ali “quase a beira do abismo” e fizemos o que muito de novo era criado com a maior inteligência, a do coletivo, o que pode defender e unificar a vida.

Muitos nomes que tinham corpos para representar piscam no crânio destruído: Pastel, Léo, Jaime, Flávia, Katia, Jaqueline, Berbara, Beth, Felipe, Luciano e outras mais que não consigo mais recordar, quem sabe poderão ajudar. Tá bom, não sou adepto do empírico, mas ainda que houvesse muitas rosas pelo chã que tomavam como desenho a Rural, a Rosa ainda não havia organizado meus conhecimentos, até então era só o Marx.

Sim, ocupamos o MEC: CS é só PSTU e CGB acabou (entendidos entenderão). Lembro mais de Berenice e da Estela que do CGB, confesso, mas eu morava no sexto alojamento e rapidamente, com ajuda do PRATA DA CASA aprendi onde era o Gustavão. Mesmo com o tal do CUBOL que confesso de peito aberto que me irritava, ficava lá e ouvia a violência até me posicionar contrário. Era mais próximo do inteligente trote DESPENCA E DESMAIA – que na verdade era só dizer: penca e maia (diz penca e diz maia rsrsrs).

Nunca fui intelectual de academia, como confesso no livrinho sou INTELECTUAL DA PERIFERIA, e já era, por isso o MST tomou minha chegada logo na primeira semana. Inspirações singulares que, nos dias atuais piscam no cérebro e sacodem com percussão o crânio, mas no cérebro ainda há cordas e sopros passando como ventos que me impulsionam na cadeira de rodas.

Mas vamos lá, hoje (30) acho que no tempo Newtoniano foi até ontem, fiz pulsoterapia e chegaram lembranças do passado de CRONOS. E assim, impulsivamente quis lembrar, escrever para divulgar, quem sabe, exista quem vá ler sobre a memória desses que ajudaram ampliar a potência humana nessa passagem pela Rural, onde morei, estudei, atuei, toquei e ajudei a compor artes, teorias e escritos errados (tá bom, sobre isso não vou falar e não adianta perguntar, nem consigo lembrar é só nuvem passageira).

Depois da Rural parti para UFRJ e as tais das Ciências Socias, depois da Ciências Econômicas, me tomaram, mas há quem jure que durante o tempo ruralista da minha vida fui da Agronomia. Simples assim: com destaque para MAGUILA, direita era sinônimo de VETERINÁRIA (ou CAPA GATO) e esquerda era sinônimo de AGRONOMIA (ou VERDUREIRO), mas tudo bem, são passagens. Só chegam essas lembranças porque tive a oportunidade de me relacionar com os verdureiros, ainda que existissem vários outros seres humanos passando pela Economia (acho que não sei até hoje o que significa uma tal de ECONOMIA DOMÉSTICA), pela ZOOTECNIA (parceiro máximo dos verdureiros com muita maconha comum) e um monte de anarquistas, sobre os quais nem vou falar. Só posso lembrar que Paulão, se não me engano do CGB, queria meus poucos livros. Ah, e como não mencionar o Berbara! foi ele que me apresentou ainda mais a Escola de Frankfurt.

Já cheguei na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), criada na cidade do Rio mas sem espaço aqui ficou sediada em Seropédica, onde muito vivi, aprendi, toquei e sorri. Acho que nos dias atuais, com a tal da Esclerose Múltipla até sorrir é difícil e fico cada vez mais calado, no máximo mexo os dedos no tal computador de mesa, já que no computador de mão quase não consigo mexer.

O importante dessa CARTA JOGADA ÀS NUVENS é dizer para as pessoas que passaram empiricamente, que não passaram em minha sobrevivência e nem na pouca vida que me restou. Muito aprendi e só juntei inteligências nessa época porque havia mais pessoas do que livros. Hoje há mais livros que pessoas. E mesmo que tenha sido pelo impulso da Rural que li A CRISE DA CRISE DO MARXISMO (quem sabe se o Berbara tiver acesso a esse texto, possa lembrar e me ajudar a lembrar mais, pois foi ele que me convenceu de defender a ocupação do MEC no Gustavão, eu acho).

Só posso acabar essa primeira versão afirmando que isto é um desabafo necessário de memórias do meu passado singular que foi também o passado de muitas pessoas. Eu continuo, mesmo com a passagem longa de mais de 12 anos em Brasília, sobrevivendo no ambiente carioca. E seria muito bom, antes de me tornar poeira ou ventos esquecidos sem lareira, ter pessoas que já foram amigas novamente registradas nos neurônios que ainda há.

Ops… nunca atuei no movimento estudantil, meus espaços de atuação eram outros. Mas muitos GRÊMIOS, DCEs e CAs ou DAS.

Outra memória relevante e que ainda permanece viva é sobre o meu querido Marcelo Paixão que também passou pela Ciência Econômica – mas não na Rural, de quem o tempo e a distância não puderam me afastar. Ainda hoje ele é um dos humanos que me impulsiona a viver.

Importante trazer à memória a razão por que estudei Ciência Econômica: foi o que encontrei para convencer seu Helio – pai biológico social com a mãe dona Celina, pessoas que me fizeram existir e viver – que valia na época, mais que carteira assinada que eu tinha desde os tenros 16 anos.

Quem sabe que, com essa carta, novas outras pessoas chegarão ou voltarão para ampliar a inteligência que possa existir em meu corpo enquanto sobreviver. Aprendi o que é o amor, mesmo que sempre bata nas paredes, o amor sempre foi importante para viver e além da inteligência são as pessoas que com amor ajudarão a ultrapassar barreiras. Se souberem desta carta e quiserem podem chegar só pelo amor e quem sabe novamente ajudem para produzir e ampliar o portal da inteligência nas nuvens, no cérebro e no ar.

Cidade do Rio, fim de 29, início e transcorrer do dia 30 de março de 2024. Com a fundamental ajuda de Mônica Marins na correção das letras organizadas em palavras e frases.