As informações sobre o CENSO 2022 enviadas pelo IBGE (aparelho de Estado que opera tais levantamentos no Brasil) e divulgadas pela imprensa não são “naturais” e não podem ser sentidas como normais. É natural que o Brasil possua a maior reserva de água doce do mundo, com 12% do total disponível no planeta, mas não é natural que alguma pessoa no Brasil não tenha acesso à água potável. Levando-se em consideração que a América do Sul possui 12 países, que unificadamente possuem cerca de 423 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 5,3% das pessoas do mundo, pode-se arriscar que os 12% de água potável do Brasil poderia sustentar toda América do Sul.

Segundo os levantamentos realizados sobre as populações da América do Sul, um levantamento de informações chamado de pesquisa, realizada pela Fundação Bunge y Born, 17% dos argentinos vivem em cidades com um abastecimento de água “muito comprometido”. Com inteligência e atuação humana seria possível transformar a natureza em elementos favoráveis para todas as pessoas. Mas na sociedade de classes não há o que ocorra para todas as pessoas, infelizmente. Ou seja: a água potável, existente naturalmente no Brasil, poderia ter um efeito ainda mais favorável para a defesa e melhoria da vida dos seres vivos se contasse com ações políticas feitas por seres humanos para assegurar que todas as pessoas tivessem acesso a água potável no Brasil e em toda América do Sul.

Mas, há a política, pois, afinal, por natureza, somos, todos seres humanos, fêmeas e machos, zoon polikon.

De acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), esse percentual o Brasil possui 12% de água potável em todo o planeta que possui cerca de 193 países, o que representa o dobro de todos os rios da Austrália e da Oceania, sendo superior em 42% do que o da Europa e 25% maior do que os do continente africano. Ainda que essa seja uma realidade natural, o conhecimento sobre isso não é, assim como um país que tenha aproximadamente 2% de seres humanos do mundo e 19% de água potável não conviva com acesso à água potável para toda a população. É muito importante conhecer para poder pensar e agir fazendo tecer uma inteligência coletiva em favor da vida e possa fazer o “naturalmente possível” existir para todas as pessoas.

Tanto a água potável, quanto o saneamento são muito importantes para a saúde. As pessoas com acesso a água potável, com possibilidade para transformar em água filtrada e com saneamento básico, são pessoas com condições fundamentais para que a saúde exista em suas vidas. Certamente que várias outras ações, também possíveis de existir nas cidades, como a não existência de fome, a garantia de moradia para todas as pessoas e a constituição de acessibilidade para todas as pessoas nas cidades, são questões fundamentais para falarmos em saúde, pois, sem isso, o que tende a predominar são as doenças.

A equação que não bate é que doenças são fundamentais para que os “empreendedores dos grandes lucros” possam ter mais em que lucrar e a base fundamental para a saúde existir cultiva a vida para a grande maioria. Esse, inclusive, é um passo fundamental para que se possa falar de humanidade e de políticas que favoreçam a vida, diferente do predomínio da necropolítica em vários dos países existentes, inclusive no Brasil.

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Tanto hospitais, quanto remédios são importantes para organizar e, por vezes, combater as doenças, portanto, se organiza nas cidades como fonte fundamental para a garantia do lucro. Assim sendo, é importante para que seja possível construir um conhecimento coletivo que possa se movimentar em favor da vida,  divulgar que o faturamento da indústria de medicamentos em 2022 foi superior a 130 bilhões de reais e que, segundo a Confederação Nacional de Saúde, já temos mais 4.400 hospitais privados no Brasil e a maior parte tem como objetivo os “fins lucrativos”. Quer dizer: com o cenário imposto com ignorância e doenças crescentes, produzir hospitais e remédios asseguram lucro e, como consequência, muito dinheiro para os proprietários.

O Brasil, que se diz um dos principais ou o principal país da América do Sul, não ocupa o primeiro lugar em saneamento, o que precisa de ações e investimentos nada naturais, mas totalmente possíveis. Isto é: muito diferente da existência da água potável com a quantidade que existe no Brasil. Construir redes de saneamento e água potável para todas as pessoas é uma medida fundamental para a saúde e, portanto, para a vida da maioria. Isto significa que,  diferente de remédios e hospitais haveria investimento real em saúde.

Logo, não é normal e muito menos natural, que passem pelos cérebros de todas as pessoas humanas as informações do IBGE no último CENSO, que afirmam que menos de 63% da população está conectada à rede de coleta de esgoto. São realidades que a ideologia transforma facilmente em fugidia para a memória da maioria de pessoas que existem no Brasil. Assim como é natural que o país com o mais elevado percentual de água potável no mundo tenha toda a população com acesso a água filtrada.

O Canadá, por exemplo, que possui cerca de 40 milhões de habitantes, também possui uma rede de água potável, filtrada e de esgoto, o que nós, brasileiras e brasileiros, não chegamos nem perto. Para ter saúde precisamos sim de acesso a água potável, água filtrada e saneamento para 100% das pessoas. Por enquanto, lamentavelmente, o que existe é o predomínio da doença e, com isso, a ampliação de lucro de proprietários que investem em hospitais e remédios. Há o que fazer na formação social do capitalismo que predomina no Brasil para fazer existir políticas aprovadas, exercidas e organizadas pelo Estado que defendam ou melhorem a vida.

Superar a ignorância e constituir polos de inteligência coletiva em favor da vida é uma ação fundamental para que um qualificado e critico paralaxe de organizações como o IBGE possa existir. Assim, ao menos, será possível colaborar com uma publicidade afirmativa para a vida avançar. Para tanto, por sua vez, mesmo mantendo os lucros, pode-se avançar em investimentos para a vida. Movimento nada fácil na disputa atual das classes com todas as diferenças e diversidades já existentes.