MÚSICA

Por Renan Simões

 

Antes de finalizar a lista dos (meus) 107 melhores discos da música brasileira, preciso reiterar e desenvolver alguns pontos trazidos no texto de apresentação.

Inicialmente, relembro que meu processo de aprofundamento enquanto ouvinte de música foi iniciado em 2008, e a ideia da lista surgiu em 2017. O processo de escolha e avaliação dos álbuns foi bem criterioso e trabalhoso, e se deu em parceria com a minha esposa Sabrina Souza, também musicista; a lista foi finalizada em julho de 2021. Os textos sobre os álbuns estão sendo publicados ao longo de dois anos e meio (2021-2023), e o ato de revisitar cada álbum me fez amá-los cada vez mais; todos continuam, sem exceção, como grande favoritos meus. Neste período, descobri também alguns álbuns brasileiros (novos e antigos) que mereceriam integrar a lista final; sobre estes, tratarei em publicações futuras.

Minha lista apresenta alguns álbuns consolidados pela crítica especializada, mas estes não chegam a 15% do total; em sua maioria, apresento álbuns e artistas relegados ao esquecimento/apagamento. Esta lista denuncia de forma precisa as minhas preferências:

  • Virtuosidades/excentricidades musicais (14 Bis, Bacamarte, Boca Livre, Os Cariocas, Cesar Mariano & CIA., Daniel Salinas, Egberto Gismonti, Hamilton de Holanda Quinteto, Hermeto Pascoal e Grupo, Marco Antônio Araújo, Moto Perpétuo, Mutantes, Robson Jorge & Lincoln Olivetti);
  • Canções reflexivas (Erasmo Carlos, Flávio Venturini, Geraldo Vandré, Guilherme Arantes, Jaime Alem e Nair de Cândia, Light Reflections, Marcos Valle, Nara Leão, Sá, Rodrix & Guarabyra, Taiguara);
  • Pontos fora da curva do rock (Os Brasas, Chuck Norris, Liverpool, Macaco Bong, Olivia, Rita Lee & Tutti Frutti);
  • Música de matriz africana (Baden Powell e Vinicius de Moraes, Baianinha, Moacir Santos, Paulo Bellinati & Mônica Salmaso, Pedro Santos);
  • Psicodelia (Guilherme Lamounier, Os Lobos, Ronnie Von);
  • Clube da Esquina (Beto Guedes, Lô Borges, Milton Nascimento);
  • New age, ambient e aparentados (Eloy Fritsch, Homem de Bem, Mount Hibiki);
  • Música funkeada (Antonio Carlos e Jocafi, Banda Black Rio, Tim Maia);
  • Poesia falada por cima de sonoridades memoráveis (Baco Exu do Blues, Projota, Racionais MC’s);
  • Surrealismo bem acabado do século XXI (Dorgas, Guerrinha, Séculos Apaixonados, todos com a presença de Gabriel Guerra, sendo o primeiro um projeto solo);
  • Vaporwave (Lindsheaven Virtual Plaza, Windows96);
  • Experimentalismo (Cadu Tenório)

Além disso, é claro, há muito de Gimu e Renato e Seus Blue Caps, dois polos extremamente opostos e os recordistas da lista. A lista apresenta também alguns nomes consolidados pela crítica (Antônio Carlos Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Elizeth Cardoso, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Roberto Carlos, Silva). Nessa bagunça, teve até espaço para o disco mais emblemático de funk carioca.

Por fim, cabe transcrever o seguinte trecho do texto de apresentação da lista:

“Essa lista é uma celebração do que mais me chamou atenção na música brasileira, e em nenhum momento desmerece os artistas que não a integram. Há muitos álbuns que me são agradáveis, mas não a ponto de integrar a lista. Há muitos artistas com músicas, ideias, representatividade e trajetórias incríveis, mas que não me convenceram no formato álbum como um todo. Ademais, toda a música, inclusive a que eu evito ou não me agrada, tem seu lugar, seu público, e merece ser respeitada.”