Após responder muitas mensagens e ligações de amigos preocupados com a minha situação e a de Israel, e depois de ouvir algumas sirenes de possíveis mísseis palestinos em Tel Aviv (com um deles atingindo um prédio um pouco sul de onde estou me hospedando), aqui vamos dormir sabendo que há grupos palestinos ainda dentro do território israelense, que o número de mortos aumenta de maneira muito alarmante e que há uma grande quantidade de reféns (o registro de quando são tomados e levados aparece na TV palestina e é repetido pela Al Jazeera).

Dormimos sem sobressaltos nem sirenes e hoje continua o estado de guerra, com a maioria das pessoas trancadas em suas casas e apartamentos e 90% das lojas fechadas apesar de ser um dia de trabalho. Sim, em Israel, o domingo é o primeiro dia de trabalho da semana, pois os dias de descanso são a sexta-feira à tarde e o sábado completo.

Dizem que os voos de entrada e saída de Israel foram suspensos, então tranquilamente suponho que estarei por aqui mais um tempo, o que me parece bom. Estou tranquilo e sinto que posso ajudar levantando o astral e apoiando pessoas extremamente afetadas.

São 3 horas da tarde e já foram confirmados 600 mortos israelenses (cerca de 500 civis), incluindo mulheres, crianças e o massacre do kibutz, em que 3 mil jovens que celebravam um festival de música moderna foram filmados. Imagens dramáticas mostram caminhonetes que entravam no kibutz, cheias de palestinos disparando rajadas de metralhadora sobre esses milhares de jovens que fugiam tentando se esconder.

Há mais de 2 mil feridos nos hospitais do centro e sul do país. E o que assusta particularmente são os reféns tomados e levados para Gaza, usados como proteção para evitar bombardeios israelenses a granel. Foram mostradas imagens palestinas de como esses reféns, muitos deles mulheres, são capturados e arrastados.

Há uma revolta enorme contra o exército israelense, considerado enfraquecido dada a falta de segurança e prevenção na fronteira, mas também pela reação tardia que demonstrou. E ainda pelo fato de que os palestinos saíram de Gaza e voltaram a entrar levando reféns, o que revela uma facilidade extrema para os palestinos do Hamas se movimentarem à vontade dentro do território israelense e voltarem a Gaza com os reféns.

Há raiva contra o governo e o exército devido à sensação de que eles passaram os últimos meses em discussões políticas e em defesa dos haredim (judeus ultrarreligiosos), em vez de cuidar da segurança.

Perto de onde eu me hospedo há comunidades de religiosos, ontem e hoje bastante silenciosas. Na frente do nosso apartamento vive uma família religiosa, e cada vez que soava um alarme ontem, aquelas crianças iam se abrigar abaixo das escadas, chorando e tomadas pelo pânico. Eu me pergunto o que seus pais lhes explicam quando morrem soldados e pessoas comuns, enquanto eles propugnam não participar na defesa do país e veem como única solução a chegada do Messias (que, por sua vez, depende de que TODOS os judeus se convertam em religiosos e sigam completamente os preceitos bíblicos).

A influência destes grupos me assusta muito. É aí onde vejo o perigo real da bela democracia israelense que, cambaleante diante de um governo débil e dependente, leva o país a situações de ódio e violência.

Lamentavelmente, repete-se uma história que parecia possível no mundo islâmico (Irã e outros países com governos ultrarreligiosos), no mundo evangélico (com sua forte pressão sobre governos na América Latina e nos EUA), no mundo hinduísta (Modi discriminando o mundo islâmico na Índia), e em outros espaços e governos discriminadores. Sonhávamos com um Israel democrático, aberto e liberal, com um alto conceito do Humano. E, como em outras latitudes, o mundo religioso parece avançar na imposição de regras e padrões carregados de ódio e de violência.

Algumas pessoas perguntam do exterior se tenho medo de estar nessa situação de guerra. Não amigos, tenho medo dessa perspectiva de violência dogmática que parece crescer e dominar países e populações, como uma maré de desalento.


Traduzido do espanhol por Graça Pinheiro