A questão que hoje se coloca é, pois, a de sabermos se esses capitalismos irão agora, num mundo multipolar, lutar ou concorrer de alguma forma uns contra os outros, apressando até assim a sua própria derrocada, ou se não preferirão caminhar juntos sob o lema “capitalistas de todo o mundo, uni-vos!”, desse modo alargando até as suas hipóteses de sobrevivência…
O artigo que se segue, faz-nos pensar melhor sobre este assunto…
De António CD Justo (*) em Pegadas do Tempo
A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL VEM POSSIBILITAR A SIMBIOSE DE SOCIALISMO, CAPITALISMO, CONTROLE SOCIAL E VIGILÂNCIA
Agora que o processo da globalização gagueja, o cofundador da Microsoft Bill Gates, o diretor executivo da Apple, Tim Cook, e o diretor executivo da Tesla, Elon Musk, visitaram nas últimas semanas a China em missão globalista. Depois do encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, (16.06.2023) Bill Gates – chefe da Fundação Gates – revelou-se muito satisfeito com as conversações tidas e Xi disse a Gates: “você é o primeiro amigo americano que encontrei em Pequim este ano”. “Sempre depositamos nossas esperanças no povo americano e esperamos uma amizade contínua entre os povos dos dois países”, acrescentou Xi.
Como se constata a economia encontra-se empenhada em continuar a determinar o desenvolvimento das políticas conectadas no âmbito de supraestruturas a nível global, no seguimento da doutrina de Davos. Neste contexto, a crise da Ucrânia não passará de um mero episódio histórico na competição selectiva para o apuramento dos global player (jogadores universais) que sincronizadamente determinarão o futuro e a qualidade de vida dos povos das próximas gerações. No nosso sistema social, a política é uma divisão subordinado à economia, embora os políticos tenham de dar a impressão ao povo de que são eles os alquimistas do poder. A China faz brilhar os olhos da esquerda e do capitalismo turbo porque esse sistema conseguiu reunir política e economia em uma só mão.
Para se entender o que se passa é de lembrar que já em 21 de dezembro de 2018, o bilionário Klaus Schwab foi premiado pela China com a ‘Medalha da Amizade da Reforma da China’. Klaus Schwab é uma referência mundial e foi o fundador do Fórum Económico Mundial (WEF) em 1971 que se reúne anualmente em Davos, na Suíça e que conecta funcionários do governo, empresários, académicos e outros líderes de todo o mundo para discutir e determinar coordenadas e questões económicas e sociais globais. Como então dizia Klaus Schwab, “o WEF tem orgulho de trabalhar com a China nas últimas quatro décadas.” O fórum tem uma atitude inequivocamente positiva em relação à China sob a liderança do Partido Comunista, que considera o modelo globalista de uma simbiose de socialismo, capitalismo, controle social e vigilância.
Destes e doutros oligarcas, como Soros, estão a depender as coordenadas da política mundial numa promiscuidade política de capitalismo e socialismo que se servirão das administrações como que se dos braços de um polvo se tratasse. Como em tudo, estes universais player provocam desenvolvimentos muito positivos e também muito negativos no desenvolvimento dos povos. O modelo chinês é ainda orientado pelo partido comunista mas tudo leva a crer, como se observa pelo desenrolar do controlo social actual e da política mundial, que, com o tempo, bastará um executivo central para reger e controlar a informação e com ela proceder à manipulação das mentalidades dos povos de maneira a virmos a ter uma sociedade artificializada dirigida por um grupo de tecnocratas executor das indicações que um novo sistema IA produzirá.
O fórum de Davos tornou-se uma plataforma de elites influentes onde as tendências globais são analisadas e tomadas importantes decisões económicas e políticas para a generalidade dos países. As áreas de influência de Schwab são notáveis, como se pode ver pela participação de personalidades mundiais no fórum de Davos. Foi Schwab que cunhou o termo “capitalismo das partes interessadas”, uma espécie de capitalismo camaleão não vinculado a mundivisões, mas a interesses políticos e económicos. Por influência do Fórum e de outras supraestruturas políticas tudo leva a crer que se prepara a era da indústria do humano.
O termo “capitalismo das partes interessadas”, implementa a ideia de que as empresas estão comprometidas não apenas com os acionistas, mas também com os interesses de todas as partes relevantes – incluindo funcionários, clientes, comunidades e meio ambiente. Daí a eficiência de Agendas e ONG a actuar globalmente no sentido de criar uma conscientização análoga e anónima resultante da conectação das áreas económicas, políticas, culturais e sociais num denominador comum de negócio universal do humano. Schwab criou o termo quarta revolução industrial, que descreve a fusão progressiva do humano através de tecnologias como inteligência artificial, robótica, Internet e biotecnologia conectadas.
Schwab serve-se dos desenvolvimentos tecnológicos na economia, na sociedade e no mundo do trabalho e quer vê-las integradas activamente na governança global através da colaboração e governação globais que se serve cada vez mais do papel de organizações internacionais para pular sobre os interesses nacionais. Em nome de se enfrentar desafios globais e da multilateralidade as grandes potências instrumentalizam a cultura e a arte como forma moderna de deformação da sociedade. Neste sentido devem ser criadas novas formas de intercâmbio entre líderes empresariais e artistas. É verdade que Klaus Schwab se revela como um oportuno catalisador de pensamento e de mudanças a nível global, mas deixa extremamente a desejar o aspecto humano reduzido a um rebanho a viver dentro de um estábulo.
Resumindo: a quarta Revolução industrial de Schwab possibilita a simbiose de socialismo, capitalismo, controle social e vigilância; através de Davos e da ONU conecta políticas, empresários e políticos globais seguindo uma filosofia estruturalista e pragmática a que apenas falta uma perspectiva verdadeiramente humanista.
(*) António CD Justo é natural de Arouca/Portugal e formado em Filosofia, Teologia e Ciências da Educação. Exerceu atividades pastorais em Paris e docentes na Alemanha. Reside em Kassel/Alemanha e dedica-se à atividade jornalística.