CRÔNICA

Por Cleisianne Leite

 

Em uma noite fria de um ano qualquer ele veio até mim.

Entre temores de calafrios e desesperos ele se aproximou e eu permiti.

Ele se fez presente companheiro e amigo me colocou em seus braços e me embalou.

Ele parecia um sonhos de amor impossível, tão heroico e imponente, se fez de abrigo e me cobriu por inteira.

Ele apertou a concha do meu corpo frágil com tanto intensidade e ardor!

Ele me sufocou entre beijos e abraços com um sorriso largo de quem não percebe a força que tem.

Quando tentei me erguer arfando entre suspiros agitados, temendo aquele claustro aterrorizante dos seus abraços ele me esmagou!

Tornei-me fragmentos de ilusões, Item de decoração, guardada em uma prateleira cheia de outras iguais a mim.

Ele me colou com sangue e saliva, a cada lambida que recebia, produzia um corte nele, e ele retribuía essa dor intensa contaminando cada parte do meu ser com sangue, saliva, lágrimas e suor.

Tornei-me parte sem vida de de outro ser que se fundiu em mim. E todos os dias ele dizia “é para seu bem que te mantenho aqui, longe da vista de todos, você é peça rara e para uso exclusivo do único que te ama de verdade”

Remendada, imóvel e prisioneira, fique cativa dele que veio em uma noite fria de um ano qualquer.

Hoje estou pegando poeira na estante e ainda não sei quem sou.

Talvez sejamos peças de um jogo profano cheio de pecados, dor, enganos.

somos peças no jogo da vida sem permissão de se esconder ou fugir.

Prisioneiros de sonhos e pesadelos que nos embalam ao dormir.

Talvez eu queira mirar o espelho e perguntar: “como cheguei até aqui?”

Confrontar o espelho: “porque esta há me fitar? procurando em mim uma bússola ou norte para se guiar?”

Francamente caro leitor olhe bem para si e me diga – quem é você?