Nos últimos anos, o número de demissões em massa tem aumentado significativamente no Brasil, impactando diretamente a economia e a sociedade do país. A pandemia da COVID-19, de fato, agravou a situação, com muitas empresas sendo obrigadas a fechar suas portas ou reduzir drasticamente sua força de trabalho. Os efeitos dessas rescisões são amplos e profundos, afetando não apenas os trabalhadores que perdem seus empregos, mas também a economia como um todo.

Anteriormente, utilizava-se a expressão inglesa layoff para definir uma suspensão temporária no contrato de trabalho. Contudo, com o passar do tempo, a palavra ganhou um outro significado: o ato de demitir funcionários, geralmente em grande escala, como parte de uma reestruturação da empresa, algo lamentavelmente comum em momentos de redução dos custos e dificuldades financeiras.

Um dos impactos mais evidentes dos layoffs é, naturalmente, o aumento do desemprego. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Brasil atingiu 14,8% em janeiro de 2021, o que equivalia a mais de 14 milhões de pessoas sem trabalho. Além disso, trabalhadores estavam (e ainda estão) exercendo suas atividades em condições inseguras, com jornadas de trabalho ou salários reduzidos. Essa precariedade na qual muitos se submetem pode ser interpelada como uma forma de mascarar índices, já que os últimos dados desse órgão federal, em dezembro de 2022, apontam para uma queda de desemprego, marcando “apenas” 8,1% de taxa de desocupação.

De qualquer forma, é importante observar o principal efeito dos layoffs: o impacto na economia. Quando pessoas perdem seus empregos, elas têm menos dinheiro para gastar, o que leva a uma queda na demanda por bens e serviços. Isso, por sua vez, pode resultar em outras demissões, criando uma espiral negativa de desemprego e queda da economia. Ademais, a falta de trabalho e renda também pode aumentar, como um todo, a pobreza e a desigualdade social, prejudicando ainda mais a economia no longo prazo.

Convém, então, retrocedemos até poucos meses atrás, quando observávamos que as áreas de negócio mais afetadas pelos layoffs incluíam o setor de serviços, comércio e indústria. Muitas dessas empresas, ainda hoje, têm sido obrigadas a fechar suas portas ou reduzir sua força de trabalho devido à queda da demanda e às restrições impostas pela pandemia dos últimos meses. Por exemplo, muitos restaurantes, bares e outros estabelecimentos do setor de serviços tiveram que fechar suas portas devido à falta de clientes e às restrições de distanciamento social. Da mesma forma, muitas lojas encerraram suas atividades em razão do baixo faturamento, custo operacional elevado e a migração para ambientes de comércio eletrônico. Porém esses segmentos não foram os únicos. Empresas bilionárias, cujo imaginário popular jamais cogitaria situação semelhante, também estão praticando demissões em massa por todo o mundo.

Em 2022, a Meta, detentora do Facebook, Instagram e Whatsapp, demitiu 13% de sua força de trabalho, algo em torno de 11 mil pessoas. Segundo a empresa, os encerramentos dos contratos foram necessários após a empresa lucrar 52% menos que o ano anterior. A Amazon, gigante do varejo mundial, por sua vez, cortou 18 mil postos de trabalho apenas nos EUA. E possivelmente seguirá com demissões pelo globo. Antes disso, o Twitter de Elon Musk também fez uma verdadeira devassa entre os empregados da empresa. A companhia que controla a rede social homônima diminuiu sua equipe de 7 mil funcionários para menos de 2 mil, ou seja, uma redução de mais de 70% de seus quadros.

Nem os players mais tradicionais do Vale do Silício ficaram fora das demissões em massa nos primeiros dias de 2023. O Yahoo! encerrou em fevereiro o contrato de 1.600 funcionários, incluindo o fim das operações no Brasil. A Google, praticamente sinônimo de internet nos dias de hoje, demitiu em janeiro 12 mil funcionários. A Microsoft, dona do sistema operacional Windows, já se comprometeu com seus investidores a demitir 10 mil funcionários em março. Curiosamente, menos de uma semana depois desse terrível comunicado, o CEO Satya Nadella anunciou o investimento de US$ 10 bilhões na OpenAi, empresa especializada em Inteligência Artificial detentora do badalado ChatGPT. Não é difícil, então, começarmos a realizar sinapses e ligar os pontos, mesmo usado apenas nossa “inteligência natural”.

É preciso, contudo, fazer uma menção honrosa. A Apple, até o momento, não realizou nenhum movimento para indicar que as demissões em massas estão em seu radar. O segredo? Para Tim Cooks, o CEO que substituiu há alguns anos Steve Jobs, foi realizar um crescimento sustentável entre 2021 e 2022, sem deixar que a ilusão da digitalização forçada pela pandemia da COVID-19 manteria os negócios digitais nas alturas. Logo, podemos atribuir a ausência – pelo menos momentânea – de layoffs da “empresa da maçã” graças a uma administração competente. Muitas vezes, a má-gestão de quem está com a caneta na mão arruína muitas vidas.

As empresas de tecnologia são conhecidas por serem as principais responsáveis pela adoção da inteligência artificial e outras técnicas avançadas do gênero. No entanto, isso também significa que muitos trabalhadores devem ser deslocados ou dispensados por causa da automação de processos antes realizados por seres humanos. Além disso, tais empresas também enfrentam pressões financeiras de seus investidores e acionistas para serem rentáveis e concorrerem em um mercado altamente competitivo. Isso leva a cortes de despesas e, como visto, a demissões em massa. Muitas vezes, basta que a margem de lucro tenha se reduzido em 1% para que as guilhotinas comecem a ser afiadas, exatamente como as instituições financeiras já costumam fazer por aqui.

Começa a ficar claro, então, que a implementação da inteligência artificial tem sido apontada como uma das principais razões pelas quais as empresas estão realizando layoffs em massa. A mão de obra baseada em IA é vista como uma opção mais econômica, pois máquinas são mais baratas e eficientes do que trabalhadores humanos, e não precisam de férias, salários ou benefícios. Isso significa que empresas podem poupar dinheiro, aumentar a produtividade e obter lucros mais elevados. No entanto, o custo para a sociedade é imenso, com milhões de trabalhadores sendo demitidos e ficando sem emprego.

Outrossim, a implementação da inteligência artificial está acontecendo em uma velocidade crescente, levando uma situação de desespero para muitos trabalhadores. É importante destacar que a implementação da IA não está acontecendo apenas em indústrias específicas, mas em praticamente todos os setores da economia. Desde a produção até a prestação de serviços, a mão de obra humana está sendo substituída por máquinas inteligentes. Isso está por criar um cenário em que muitos trabalhadores perderão seus empregos e enfrentarão dificuldades para encontrar novos trabalhos, afetando negativamente a economia e a sociedade como um todo.

Apesar dos efeitos negativos dos layoffs, existem maneiras de mitigar seus danos. Por exemplo, as empresas podem adotar políticas de downsizing mais humanas, em vez de demitir em massa. Isso pode incluir programas de treinamento para ajudar os trabalhadores a encontrar novos empregos, políticas de licenças remuneradas para aliviar os custos e ajudar seus funcionários a cuidar de sua saúde e bem-estar, e programas de seguro-desemprego adicionais para fornecer uma rede de segurança financeira para aqueles que perdem seus empregos.

Além disso, empresas e governos podem trabalhar juntos para ajudar a estimular a economia e a criar empregos. Isso pode incluir investimentos em infraestrutura, apoio a pequenas empresas e programas de incentivo à inovação. Os governos também podem oferecer programas de capacitação e treinamento para ajudar trabalhadores a adquirir novas habilidades e encontrar novos empregos no novo mercado que se consolida.

No entanto, é importante destacar que a responsabilidade por mitigar os efeitos dos layoffs não recai apenas sobre as esferas governamentais e empresariais. Os empresários, gente de carne e osso como nós, também precisam ser responsáveis por suas ações e considerar o impacto de suas decisões sobre a sociedade e a economia. Infelizmente, muitos ainda priorizam seus lucros em vez de suas responsabilidades sociais, optando por demitir em massa em vez de encontrar soluções mais justas e humanas. Um caso recente no Brasil que ilustra os pontos deste texto é o corte de 50% da equipe de funcionários do blog Me Poupe, empresa que atua nos dois segmentos abordados: finanças e tecnologia. Sua dona Natália Arcuri, em entrevista, negou que a empresa passasse por crise, contudo afirmou que não é uma ONG para fazer caridade e precisa de gerar resultados. Para atingir sua meta, recorreu a cortes de pessoal e – o que já era esperado nessa altura – um aplicativo de inteligência artificial para realizar o trabalho dos demitidos.

Concluindo, os efeitos dos layoffs são profundos e amplos, afetando diretamente a economia e a sociedade. Embora existam maneiras de abrandar seus danos, é imprescindível que empresas, governos e empresários trabalhem juntos para encontrar soluções justas e humanas para ajudar trabalhadores a se adaptarem a uma economia em constante mudança. O papel dos empresários é fundamental nesse processo, pois eles precisam ser responsáveis por suas ações e considerar o impacto de suas decisões sobre toda uma comunidade. A adoção da inteligência artificial e outras tecnologias, que ao que vemos é inevitável, pode intensificar ainda mais esse problema, logo é importante encontrar soluções para ajudar todos nós a nos prepararmos para um futuro incerto. As demissões em massa não devem parar e nossas cabeças estão aí para serem guilhotinadas. E tomara que nossas cabeças não sejam decapitadas apenas porque nossas inteligências não são artificiais.