Por Astor Almeida Filho*

As eleições do último dia 3 de outubro levaram dois candidatos para a decisão no segundo turno, que ocorrerão no próximo dia 30. E agora, o que fazer? Creio que possivelmente esta dúvida esteja pairando na cabeça daqueles eleitores cujo voto não tenha contemplado a nenhum daqueles que conseguiram majoritariamente os votos e irão disputar no segundo turno.

Na minha opinião, mesmo discordando com os ideais políticos, projetos de campanha, bem como a trajetória política, ainda assim é muito importante fazer uma comparação entre ambos e com muito critério para escolher um dos dois atuais presidenciáveis, pois compreendo que tomando a decisão de não votar em nenhum dos dois não fará tanta diferença assim, uma vez que independentemente da anulação voto, existirá um vencedor que irá governar o país por quatro anos.

O simples fato de o eleitor anular o voto não irá libertá-lo da administração do eleito. Ademais, a justificativa de que a anulação do seu voto lhe trará a sensação de tranquilidade e alívio por não ter contribuído para elegê-lo, de nada irá adiantar, porque, com toda a certeza, todos que vivem neste país serão atingidos de qualquer forma com os impactos positivos e/ou negativos provenientes das políticas implementadas pelo futuro gestor desta nação.

Reconheço que muito eleitores estão apegados à questão da corrupção, e, por isso, tendem a acompanhar o discurso do atual presidente, sem ao menos questionar que sua gestão também está envolvida em situações semelhantes. A corrupção é um mal que afeta diretamente o bem-estar de todos indivíduos, e em particular, aquelas pessoas menos favorecidas nas quais os efeitos causam consequências danosas por contribuírem para a redução dos investimentos públicos na saúde, na educação, em infraestrutura, segurança, habitação, entre outros direitos essenciais à vida; e também fere a nossa Carta Magna ao ampliar a exclusão social e a desigualdade econômica. No entanto, neste momento, é preciso ser criterioso na escolha e votar naquela opção que nos cause menores danos.

Assim, a meu ver, esta situação é muito mais complexa do que pensamos, pois o que está em jogo na atual conjuntura não é tão somente a corrupção, trata-se de algo muito mais profundo: uma ameaça à nossa democracia através de um modelo de governo cujas consequências já podemos ver nos últimos quatro anos. Precisamos evitar que o “bolsonarismo” se instale definitivamente e domine a nossa sociedade.

Não podemos aceitar que jornalista e ambientalista sejam mortos na floresta e o presidente diga “que a culpa é deles” e questione “o que eles foram fazer lá”. É uma falta de respeito o presidente atacar os nordestinos com declarações preconceituosas como “arataca”, “cabeçudo”, “pau de arara” e “paraíba”; é inadmissível que o presidente de um país assuma uma postura negacionista durante o auge da pandemia de Covid-19, com declarações infames, tais como: “Eu não sou coveiro”, “E uma gripezinha” ou “Eu sou Messias, mas não faço milagres“.

Também não devemos aceitar discursos falso moralistas, tais como a “defesa da vida” e ao mesmo tempo a apologia às armas de fogo, ou mesmo a retirada das câmaras de controle nas rodovias federais que servem de contenção à alta velocidade que tira a vida de milhares de pessoas anualmente em nosso país.

Por outro lado, é problemática a união que o outro candidato fez com Geraldo Alckimin, objetivando ganhar as eleições. É uma contradição, porque, pelo menos nos programas partidários, os objetivos de ambos diferem entre si. Esta é uma situação bastante de difícil de digerir, principalmente pelo passado recente.

No entanto, a meu ver, o atual presidente está preparando suas bases para governar nos moldes de uma ditadura, modelo de governo que ele sempre defendeu, com o cerceamento do nosso direito de expressar e manifestar nossas ideias, dentre outras coisas igualmente graves, como, por exemplo, deixar as populações indígenas ainda mais vulneráveis às ações de latifundiários e garimpeiros; os cortes nas verbas de educação, ciência e tecnologia e, principalmente, o uso da pobreza como moeda de troca eleitoral, conforme está fazendo através do Auxílio Brasil. É esse o governo que merecemos e queremos? Acredito que a resposta a essa pergunta deverá orientar o nosso voto.


* Astor Almeida Filho é graduado em Administração de Empresas.