As alturas têm como característica uma acentuada falta de oxigênio.

O mundo está de cabeça para baixo. Não apenas como produto dos eventos causados pelas mudanças climáticas ou da forma absurda e irresponsável de destruir o que foi colocado sob nossos cuidados. Simplesmente, pela perda da sanidade da esmagadora maioria dos governantes, políticos e empresários cujo único objetivo na vida é acumular poder, riqueza e manobrabilidade para fazer de outras nações um abrigo para seus atos de corrupção. Quando apontamos para os fantoches de nossos países em declínio, não devemos esquecer quem puxa as cordas. Como consequência dessa miopia, perdem-se oportunidades valiosas para reforçar os valores humanos e os das democracias utópicas.

Os ventos das alturas provocam perda do senso de realidade, alucinações, sentimento de invulnerabilidade e um absoluto desapego em relação à consequência das ações. Essa síndrome é bem conhecida por políticos, bilionários e, claro, montanhistas – embora estes recuperem o bom senso assim que descem dos picos – e seus efeitos repercutem em decisões capazes de mudar o curso da história. Isso acontece com tanta abundância nos mais altos círculos do poder que, quando alguns desses potentados agem com inteligência, parecem heróis de lendas.

Os miseráveis governantes do triângulo norte da América Central, somada Nicarágua, são no momento e para o resto dos latino-americanos, um exemplo doloroso dessa perda de capacidade humana. Não apenas assumiram todas as instâncias criadas para proteger valores e leis democráticas; tornaram-se também déspotas com a pretensão de possuir poder absoluto para garantir a impunidade de seus crimes contra a humanidade, de seus crimes econômicos, de sua evidente incapacidade e, aliás, de criar uma barreira intransponível contra os esforços de contenção da corrupção.

Embora este seja o exemplo local de má gestão e intenções perversas, também nos outros continentes as ambições de poder disputam os primeiros lugares em seus esforços para alcançar o controle geopolítico do planeta, não importa quantas vidas inocentes sejam aniquiladas no curso de sua vida. tropas, seus mísseis e suas negociações indecentes para manter o controle econômico. Para tanto, são criadas instituições mundiais de alto nível como instrumentos de coerção, cuja natureza escapa a qualquer tipo de controle, incluindo os diversos tratados e convenções firmados em defesa dos direitos humanos e da natureza.

Talvez por causa dessa atmosfera de caos, cujos incidentes chamam a atenção de grandes conglomerados empresariais aos quais pertencem as maiores imprensas do mundo, os minúsculos cidadãos – que povoam os países menos desenvolvidos – nunca terão uma visão exata de como funcionam as políticas globais e também por que nenhum poder está interessado em nosso destino insignificante.

Discursos sobre liberdade e democracia morrem de morte natural assim que tocam nossas fronteiras e tornam-se palavras vazias diante das provocações dos governantes mais corruptos do mundo. O único mecanismo de proteção está, portanto, nas mãos dos povos famintos, condenados à ignorância e submetidos a constantes abusos por parte de seus governos; e são estes, também, que recebem os golpes mais duros do sistema que nos governa.

O controle absoluto do poder é capaz de destruir todo o arcabouço legal que nos protege.


Tradução do espanhol de Verbena Córdula