A América Latina é um continente rico. Sabemos disso quando a mídia nos mostra a prosperidade dos mais poderosos e a forma astutamente legalizada com que se apropriam de recursos vitais  – como água, terra e minerais –  para explorá-los e construir seus grandes impérios. Tudo isso, sustentado pela dependência econômica dos setores mais carentes. Os governos, por sua vez, são seus aliados incondicionais por terem assumido os centros de controle político graças a leis casuísticas nas quais não incluem os limites do financiamento de suas campanhas ou da manipulação da justiça. À espreita, no escuro, as organizações criminosas se beneficiam desse sistema único.

Em paraísos de corrupção, os mais atingidos são crianças e adolescentes cuja existência não estabelece prioridades nas agendas políticas. Usados como instrumento emocional nas propostas eleitorais, são relegados ao último lugar nos programas de governo porque, obviamente, não têm voz ou voto como membros da sociedade. Este abandono tem consequências a longo prazo; uma delas é como milhares de meninos e meninas, condenados à desnutrição, à perda de suas capacidades físicas e mentais, à violência derivada de seus ambientes de miséria, são expostos a uma vida curta. Além daqueles que pedecem por falta de nutrientes, há muitos mais que, por causa dessa condição, acabam servindo como mão de obra barata sem chance de avanço na vida.

A resposta a uma pergunta tão óbvia está no sistema político e na forma como o Estado é administrado. A perspectiva, a partir dos segmentos políticos, não atingiu maturidade suficiente para consolidar políticas públicas fundamentais e apresenta fortes deficiências em sua visão humanitária ou como quer ser chamada o mais elementar senso de responsabilidade com relação às obrigações para com a população mais necessitada de ajuda. Em geral, o discurso político típico sobre a desnutrição infantil se reduz a mostrar números e satisfação se o percentual for um ou dois pontos inferior ao do ano anterior; Assim, o fato de apontar avanços insignificantes parece-lhes um sucesso, mesmo quando o número de crianças mortas não mostra sinais de desaparecimento.

Supõe-se que depois de tantos estudos realizados por organismos internacionais, secretarias, comissões e especialistas contratados para executar os planos, já poderia haver programas bem estruturados de tolerância zero contra a desnutrição crônica em nível continental, bem como alocações efetivas e transparência de recursos com ações voltadas ao aprimoramento das políticas de desenvolvimento sustentável nas áreas de maior impacto.

Os parâmetros de desenvolvimento – em países com riqueza tão grande quanto seus setores de pobreza – não podem ser sustentados por indicadores válidos e tecnicamente corretos sobre as políticas de erradicação da desnutrição infantil crônica. Para fazer isso, os programas de assistência alimentar devem se tornar independentes das estratégias de propaganda do governo e trabalhar em conjunto com organizações da sociedade civil que servem como seu endosso. A sociedade, se se envolver e descartar seus preconceitos, seria capaz de mudar essa realidade atroz da infância.

A fome não é uma maldição, é o produto da corrupção dos gobernantes.


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Tradução de Verbena Córdula