Imediatamente após o terremoto de 2010, assumimos na Fundação Semilla (Fundação Semente, em português) a tarefa de apoiar escolas na zona devastada da região de O’Higgins, por meio de programas de tratamento de estresse pós-traumático. Aos poucos, fomos percebendo que o estresse era causado pela violência no âmbito escolar e no seu entorno, e não pelas perdas materiais que havia sofrido a população dessas áreas.

Abuso, intimidação (bullying), assédio sexual, autoritarismo, falta de diálogo, discriminação, falta de participação e outras tantas condutas violentas consideradas ‘normais’ estavam gerando um alto nível de estresse em pessoas de diversos níveis sociais. O terremoto havia servido de desculpa para abordar um tema considerado, até então, tabu no interior nas instituições de ensino. Nossa presença funcionou como um catalisador para que a comunidade enfrentasse sua realidade de violência.

Hoje enfrentamos uma situação similar, porque a pandemia e as aulas remotas estão sendo vistas como “a” causa da violência em contextos escolares e, embora possa haver alguns problemas derivados do isolamento e da falta de socialização, as causas da violência ou da má convivência são de caráter estrutural. A sociedade mudou, mas a cultura e o sistema educacional não se adaptaram aos novos tempos.

O ministro da Educação, Marco Antonio Ávila, apresentou esta semana a «Estratégia de Bem-estar e Convivência» para o sistema escolar. Ele destacou que «essa estratégia considera a entrega de recursos pedagógicos para apoiar as comunidades educativas; ações de intervenção direta para apoiar escolas com casos críticos; e a criação de um Conselho Assessor para a Convivência e a Não Violência. O Conselho reúne 13 especialistas em saúde mental, bem-estar e convivência, que estarão encarregados de orientar políticas públicas a curto e a longo prazo neste âmbito».

Embora a convivência seja uma política pública que foi incluída nos programas ministeriais há alguns anos, esta é a primeira vez que um ministro da Educação prioriza a convivência escolar. Na Fundação Semilla estamos orgulhosos de que nosso diretor‑executivo, Matías Nieto, tenha sido convidado a integrar esta iniciativa. É um reconhecimento a sua trajetória bem como à da Semilla. Matías Nieto tem estudado, pesquisado, criado ferramentas pedagógicas e implementado programas no âmbito da convivência escolar.

O antônimo de violência é convivência; e só se consegue uma boa convivência por meio de uma educação que desenvolva habilidades socioemocionais. Enfrentar a violência e promover a convivência em contextos escolares não é apenas um desafio ético, mas uma política que também tem consequências fundamentais em nível individual e coletivo, com impactos em âmbitos como o rendimento escolar, a saúde, a cidadania e a coesão social.

Esperamos que as comunidades escolares estejam à altura deste desafio e assumam a implementação das diretrizes gerais emitidas pelo ministério, que prioriza a convivência escolar e implica em um forte compromisso por parte dos Conselhos Escolares para a adaptação territorial, de maneira que sua abordagem seja sustentável ao longo do tempo.


Traduzido do espanhol por Débora Lima / Revisado por Graça Pinheiro