Por Camila Aguiar

Nesta segunda parte da entrevista à Camila Aguiar, para Pressenza, a pré-candidata pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), Sofia Manzano, fala, entre outras coisas, sobre a necessidade de o país implementar uma política cultural que priorize as pequenas manifestações artísitas e culturais, a fim de que o dinheiro público não seja destinado a grandes grupos e artistas como vem ocorrendo, mas aos setores populares. Ela fala ainda das opressões como racismo, machismo e homofobia, destacando a necessidade de implementação de políticas estruturais no sentido de combatê-las. Sobre a educação, afirma que deve ser pública, gratuita, de qualidade e não tecnicista. Manzano defende, também, uma política socioambiental na qual seja priorizada a produção agroecológica. “De acordo com ela, apesar de a questão ambiental ser uma das mais importantes e urgentes, o Brasil está na contramão”. Ressalta que a grande prioridade é a reforma agrária.

Considerando as questões socioambientais como uma das mais urgentes e necesárias, Sofia Manzano destaca a necessidade de reverter o processo produtivo dos alimentos no Brasil, a partir de uma reforma agrária. Segundo ela, isso resolveria um problema social histórico no país, que é a falta de acesso à terra por quem necessita e também o problema ambiental.

“Mas não simplesmente distribuir um pedaço de terra e deixar as pessoas lá. Temos que ter uma reforma agrária com um projeto técnico que garanta a produção de alimentos que a população consome e não visando a exportação de commodities”, enfatiza. Manzano destaca o importante papel das Universidades neste assessoramento técnico.

A pré-candidata afirma que a reforma agrária resolveria também o problema ambiental, já que está provado que a pequena propriedade orientada tecnicamente impacta muito menos o meio ambiente, pois aplicaria a produção agroecológica, que combina a produção de alimentos vegetais e animais. “Já existe capacidade técnica para fazer isso, mas são os setores poderosos da agroindústria que não permitem que essas medidas sejam adotadas”, pontua.

Ela afirma a necessidade de questionar o papel desempenhado pelo capitalismo enquanto explorador da Natureza e defede uma legislação para o setor industrial, principalmente “para eliminar, o máximo possível, a quantidade de embalagens produzidas”.

Manzano destaca ainda que, no tocante à produção energética, apesar de o Brasil possuir capacidade para produzir energia solar e eólica, não há investimento das empresas que foram privatizadas no que se refere ao processo de transmissão. Ela exemplifica com o estado da Bahia, que conta com um parque eólico instalado e que não pode funcionar porque não tem como transmitir essa energia. “Veja o desperdício de uma coisa que não degrada tanto o meio ambiente, como a termoelétrica, ou como a hidroelétrica, e não pode ser usada porque a iniciativa privada não faz as linhas de transmissão”, expõe.

Ainda sobre as questões socioambientais, Manzano ressalta a importância da educação ecológia, mas pontua que não se pode colocar a responsabilidade apenas nas pessoas. De acordo com ela, não é culpa do consumidor que ele seja obrigado a produzir lixo.  “Por mais que a gente recicle, o lixo continua sendo produzido, porque não somos nós que produzimos. Há uma mentira divulgada de que é a população que não recicla. Quem apresenta as estruturas são os capitalistas”.

A pré-candidata à Presidência da República diz ainda neste parte da entrevista que as opressões como o racismo, o machismo, a homofobia, a transfobia, entre outras, estão combinadas com a exploração capitalista. E embora defenda as ações afirmativas de colocação dessas populações oprimidas nos diversos espaços, diz ser necessária “uma política classista, porque ela combate o capitalismo, mas também uma política inclusiva”, devido às especificidades desses setores. “Ao contrário do que se diz, não são minorias, são maioria. Nós somos maioria”, enfatiza.

Sobre o sistema educacional, Sofia Manzano destaca a importância de ser público, gratuito, de qualidade e não tecnicista; e afirma que o Estado precisa assumir os gastos no setor e não transferi-los às famílias. De acordo com ela, é muito comum comparar os gastos brasileiros neste setor com outros países, como a França, por exemplo. Mas ressalta que, embora os valores referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) aplicados sejam próximos, a diferença é que naquele país os recuros são públicos e aqui são privados; ou seja, majoritaiamente custeados pelas famílias. “É preciso lutar pela desprivatização da educação”, defende.