Apesar de ter sido elevado para R$1.212,00, o salário mínimo brasileiro não teve aumento real. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o novo salário apenas acompanhará a inflação do Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC). Há mais de 10 anos que a classe trabalhadora brasileira vem sofrendo com perdas consideráveis no salário mínimo, sobretudo em relação ao poder de compra da cesta básica.

De acordo com relatório do Dieese, com base em dados também do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 20 anos o salário mínimo teve aumento real de apenas 78,7%. Os números apresentados revelam também a diminuição da capacidade de aquisição da cesta básica. Em 2010, por exemplo, um salário mínimo nacional, que era de R$ 510,00, comprava 2,06 cestas básicas, enquanto que agora, após o reajuste, comprará 1,73.

Em setembro do ano passado uma pesquisa da consultora IDados revelou que mais de 30 milhões de trabalhadoras e trabalhadores recebiam até um salário mínimo por mês. Trata-se de dado alarmante, considerado um recorde. No mês de dezembro, a mesma Consultora revelou que na região Nordeste as pessoas nessa condição compunham mais da metade da classe trabalhadora.

Esses números são aterradores e revelam como o capitalismo periférico opera mais ferozmente em relação à população mais vulnerável. No Nordeste, a maior parte da população é pobre, conforme o IBGE (2020). O levantamento do Instituto revelou que 47,9% da pobreza brasileira estava concentrada naquela região, um paradoxo, se consideramos que ali vivem menos de um terço da população nacional, o equivalente a 27,3%.

Enquanto isso, no último trimestre do ano passado, os bancos Bradesco, Itaú e Santander lucraram quase 18 bilhões de reais (17,9 bilhões), um aumento de 28,5% em comparação ao mesmo período de 2020. Os balanços financeiros divulgados por essas instituições  financeiras no último mês de novembro revelaram que o Itaú é o banco privado mais lucrativo do Brasil. Ele sozinho lucrou 6,78 bilhões de reais em 2021, seguido pelo Bradesco com 6,77 bilhões e o Santander com 4,34 bilhões.

Enquanto em tempos de pandemia uma parcela considerável da classe trabalhadora se encontram “na rua da amargura”, os banqueiros não têm do que reclamar. E assim segue o capitalismo selvagem, privilegiando a quem especula e castigando a quem trabalha. Mas eu continuo acreditando (e atuando) para que outro mundo seja possível.