MÚSICA

Por Renan Simões

 

Egberto Gismonti é o cara mais competente, criativo, versátil e musical da música brasileira. É talvez o único humano que consegue ter uma expressão transcendental ao piano e ao violão. Além disso, é espetacular como compositor, arranjador e cantor. Por fim, sempre consegue, conceitualmente, sonoramente e visualmente, grande unidade para seus lançamentos. Egberto é imbatível!

Seu álbum homônimo de 1973, também conhecido pelo nome de Árvore, tem algo que me parece onipresente na discografia do músico: a sensação de assombração. A música de Gismonti parece trazer mensagens nostálgicas vindas do além, representando sentimentos que ainda somos incapazes de captar diretamente. Há um toque assombrado em Luzes da ribalta, faixa de abertura, e na emocionante Memória e fado, cada qual em seu universo sonoro – e não me refiro aqui meramente a alguns efeitos instrumentais, mas às linhas e entrelinhas de cada aspecto musical e lírico. Essas duas têm letra de Geraldo Carneiro.

Deixando de lado a desinteressante Academia de danças, surge o pianista transcendental em Tango. Encontro no bar, outra parceria com Geraldo Carneiro, retoma o quê de assombração. A seguir, somos brindados com o esplendor de Gismonti instrumental, no sentimentalismo villalobiano de Adagio e na grandiosa construção de Variações sobre um tema de Leo Brouwer, com uma bela citação de Cravo e canela, do Clube da Esquina. O álbum finaliza com a badeniana Salvador, quente e brasileira.

Curiosamente este talvez seja um dos únicos álbuns de Gismonti que não traz os créditos detalhados dos músicos participantes, apenas um agradecimento geral a estes. Nos créditos, salientamos também o onipresente Maestro Gaya na direção musical e Mario Tavares na regência.

Egberto Gismonti, Egberto Gismonti (1973), expressão raiz do grande gênio da música brasileira popular! Ouça, desfrute, reflita, repasse:

[Incrivelmente este álbum não está disponível em nenhuma plataforma digital]