A fome, a miséria, o desemprego, o subemprego, a alta do dólar, os recursos do ministro da economia Paulo Guedes nas Ilhas Virgens Britânicas e a política econômica estão intimamente relacionadas. O que a gente tem chamado de crise pandêmica, é, na realidade, “o sangue e a miséria da população que vive do trabalho”. Esta afirmação é da Professora e Doutora em História Márcia Santos Lemos, que, a partir de uma poesia da escritora Conceição Evaristo, convocou o público a refletir acerca das condições de vulnerabilidade a que está submetida a maioria da população negra, pobre e periférica do Brasil, durante a Roda de conversa “Pandemia: o anúncio do fim?”, realizada nesta sexta-feira, 8 de outubro.

De acordo com Márcia Lemos, aparentemente a crise que o Brasil vive tem relação com a pandemia, mas, na realidade, trata-se do resultado da uma sociabilidade capitalista. Ela chamou a atenção para o fato de o Brasil ter voltado a figurar no Mapa da Fome, enquanto o ministro Paulo Guedes mantém uma fortuna no exterior, livre de impostos e de explicações quanto à origem.

Ainda não vimos nem o começo

A Professora chamou a atenção para o grande número de pessoas vulneráveis no país, salientando quem são e onde se encontram. “Basta cruzar os índices de desocupação, de informalidade, de emprego e renda, de pobreza monetária, de condições de moradia, de escolaridade, de cor, de gênero que vocês vão montar essa equação: essa população é pobre, é preta, mora na periferia e na zona rural. É a população vulnerável no Brasil antes da pandemia, durante a pandemia e depois da pandemia”, ressaltou Lemos, que criticou a defesa do governo Bolsonaro, através de Paulo Guedes, no que se refere a reduzir a atuação do Estado. “É dever do Estado garantir saúde, educação, moradia, condições mínimas para a população em vulnerabilidade socioeconômica. Reflitam comingo se no Brasil não tivéssemos o SUS”.

Conforme a Enfermeira Pollyanna Costa, que é também é Professora e Doutora em Meio Ambiente, a pandemia da Covid-19 escancarou o que uma parte considerável da população brasileira já sofria cotidianamente, ou seja, a falta de assistência à saúde, mesmo com a presença do SUS. Ela chamou a atenção, inclusive, para a necessidade de luta da população para que as estruturas disponibilizadas para amenizar as demandas durante esse período (leitos, inclusive de UTI) continuem ativadas, pois trata-se de uma necessidade. “É um investimento e um legado que a pandemia pode deixar”.

De acordo com Pollyanna, quando se pensa em vulnerabilidade da população, é preciso pensar que essa condição vulnerável vem acompanhada de uma maior probabilidade de adoecer. “Risco de adoecer, de morrer, de sofrer consequências por longos anos”, destaca. Para ela, o fim da pandemia é incerto. E destaca que, embora algumas projeções apontem para 2022, 2023, o certo “é que as consequências não vão acabar tão cedo. Ainda não vimos nem o começo”, alerta.

Pollyana Costa salienta, ainda, que faz-se necessário que o sistema público de saúde trabalhe no sentido de atender as doenças evitáveis e inevitáveis. A primeira, segundo ela, através do trabalho de prevenção, uma das maiores reivindicações das pessoas que defendem o SUS. E a segunda, através dos atendimentos hospitalares.

Márcia Lemos e Pollyanna Costa apresentaram reflexões importantes sobre a pandemia da Covid-19, as quais passaram por questões de ordem política, econômica, social e também sanitária. Ambas ressaltaram a importância da manutenção dos cuidados, sobretudo da imunização, do uso da máscara e da higiene das mãos, e criticaram a realização de eventos como o Carnaval, entre outros, os quais atendem a uma demanda do capital, já que a pandemia ainda está em curso. Elas ressaltaram que a pandemia poderia ser o começo do fim deste modelo de sociedade no qual a vida não está sendo colocada em primeiro plano.

A roda de conversa “Pandemia: o anúncio do fim?” teve a mediação da professora Juciena Dias e integra o evento intutulado A pandemia sob outro prisma, uma realização do projeto de extensão PRISMA- educação para a diversidade, da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em parceria com o Colégio Estadual Moysés Bohana, de Ilhéus, Bahia.