Não é nenhuma novidade, mas é bom ter provas irrefutáveis sobre os conluios entre Estado e donos do capital. Um áudio vazado nas redes sociais mostrou, nesta semana, o nível de influência que banqueiros exercem sobre os destinos do País. Trata-se nada mais, nada menos do que André Esteves, dono do BTG Pactual, banco fundado pelo ministro da Economia Paulo Guedes, que atua como “consultor” do Banco Central. É o velho pacto entre Estado e burguesia.

No áudio vazado na última segunda-feira, 25 de outubro, estão reveladas, entre outras questões, “consultas” de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central (BC), assim como de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados ao banqueiro André Esteves. O dono do BTG Pactual admite no áudio vazado que o presidente do BC o consultou acerca de qual seria o limite da taxa de juros do país.

Enquanto isso acontece, mais de 13,2 milhões de brasileiras e brasileiros estão desempregados, sem ter como atender a suas necessidades básicas e de suas famílias. É importante salientar que a taxa de juros é uma variante de extrema importância na economia de um país, pois afeta muitas das decisões, não apenas para as nossas próprias despesas, mas, sobretudo, decisões que dizem respeito a investimentos estruturais da economia nacional.

Hegemonia do capital financeiro

Mas o objetivo deste texto não é falar sobre taxa de juros, até porque não sou economista. O que desejo salientar é como os setores dominantes, sobretudo aqueles que detêm o capital financeiro, exercem um enorme poder sobre as decisões econômicas nos países capitalistas, principalmente os periféricos como o Brasil, justamente pelo fato de os Estados atuarem em função do capital.

O áudio vazado, conseguido pelo portal Brasil 247, mostra falas de André Esteves durante reunião com clientes do BTG Pactual na última quinta-feira, 21 de outubro. É possível ouvir como Esteves tece críticas à ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), ao tempo em que “joga confetes” no ex-presidente Michel Temer (MDB). Lógico. Eis aí mais uma prova desse pacto entre a burguesia e o Estado.

De modo algum Dilma Rousseff realizou um governo para a classe trabalhadora, mas bastou alguma sinalização de presença um pouco mais contundente do Estado na regulação das atividades econômicas para ela se tornar alvo da burguesia. Engana-se quem pensa que os governos do PT representaram o rompimento do pacto entre o Estado brasileiro com a burguesia. Até porque, é preciso admitir que tanto os mandatos de Lula como os de Rousseff não trabalharam no sentido de quebrar a hegemonia do capital financeiro.

Apesar de certas medidas, como as políticas de distribuição de renda com o programa Bolsa Família, e os estímulos dados à produção a empresas de pequeno e médio portes, os governos petistas não deixaram de manter a hegemonia do capital financeiro. É bom lembrar que os bancos lucraram como jamais haviam lucrado. Além disso, não devemos perder de vista a continuidade da política de privatização (portos, aeroportos, rodovias, entre outras). Mas, para quem não se recorda, em 2012 Dilma Rousseff reduziu os juros adotados pelo Banco do Brasil e pela Caixa. Além disso, no  1º de maio, a mandatária cobrou dos bancos privados a mesma coisa, o que fez o sistema financeiro “espernear”.

Em compensação, o governo de Michel Temer tornou realidade o “sonho de consumo” da burguesia brasileira: a Reforma Trabalhista, que retirou diretos conquistados historicamente pela classe trabalhadora nacional, com o discurso de que aumentaria os postos de trabalho. Quatro anos após, vemos os resultados: mais de 13,2 milhões de pessoas desempregadas, sem contar aquelas que não entram nas estatísticas. E esse número assustador de desemprego não é apenas uma consequência da pandemia, pois, em 2018, conforme o IBGE, o país amargava uma taxa de 13,7 milhões de pessoas apenas nos primeiros três meses.

Como vemos, o Estado brasileiro não duvida em fazer valer as aspirações da buguesia, seja ela industrial ou financeira. E, no cenário atual, quando o país passa por um processo de desindustrialização e consequente financeirização da economia (com o fortalecimento  e consolidação do sistema financeiro nacional e estrangeiro –  sendo este o principal), uma das características principal do sistema neoliberal, é perfeitamente  compreensível a conversação entre Esteves e seus clientes. A pergunta que não quer calar, no entanto, é: até quando permitiremos?