CAUSAS

Posso sentir as batidas do teu coração, o som de tuas ondas, a nostalgia de não te sentir e não respirar a seiva da vida que brota lá do fundo do teu coração. Posso ouvir a tua canção como um sussurro em meus ouvidos distantes, ultrapassando os muros invisíveis da mobilidade perdida. Posso sentir a nostalgia de não poder te ver, nem sentir o teu cheiro e quiçá o sal da tua própria essência.

Mar, azul do céu, sabor da paz, areia de paixões, chama da ilusão que atravessa o meu ser pleno de recordações que me recobrem a pele.

Quantas histórias escondes sob o manto de tuas águas? Quantas verdades e amores perdidos? Quanto sofrimento e gritos afogados, engolfados por tuas águas límpidas, testemunhas fiéis da incoerência e das barbáries humanas? Ouve-se o canto das baleias feridas por arpões assassinos em cada rincão de tuas grutas marinhas, em cada gota salgada das lágrimas que tens derramado, em cada suspiro manchado por venenos lançados em teu mundo incerto e vilmente explorado, sem razão nem consciência.

Navegar em tuas águas é sentir a liberdade escondida, é descobrir a própria essência de vida, é aprender a fazer parte da biodiversidade marinha, é sentir-se como um viajante do tempo, que busca em tua segurança a tranquilidade para a própria alma. Canta para nós, embala-nos em teu berço líquido e nos mostra teu amor e tua beleza. Será que somos realmente capazes de capturar a tua mensagem toda vez que te olhamos ou desfrutamos do frescor de tuas carícias, do sabor da tua liberdade ou de tua melodia incomparável?


Traduzido do espanhol para o português por José Luiz Corrêa / Revisado por Graça Pinheiro