“O que eles querem é legalizar uma ilegalidade para que a terra indígena seja explorada”, afirma líder indígena

 

O Supremo Tribunal Federal adiou para agosto o julgamento da ação que questiona a demarcação da Terra Indígena Xokleng Ibirama Laklaño, em Santa Catarina. A ação movida pelo governo do Estado questiona a demarcação da terra e a votação é importante porque a decisão que os ministros tomarem servirá de parâmetro para todas as decisões em casos semelhantes no Brasil. Para a vice-cacica da Aldeia Tekohá DjE’y, em Paraty, Neusa Kunhã Takuá esse é um momento muito difícil porque o “marco temporal” atinge diretamente a existência dos povos indígenas.

A tese do marco temporal prevê que só terão direito à demarcação, as terras ocupadas até 1988, quando foi promulgada a Constituição, no entanto, segundo Neusa, ainda existem muitos territórios sem demarcação. Ela afirma que a Constituição Federal garante que um processo de demarcação não pode ultrapassar os cinco anos, mas, segundo Neusa, a lei vem sendo violada porque as demarcações têm ocorrido com até trinta anos após a abertura do processo, por esta razão há muitas terras em processo de demarcação. Ela pergunta: “Sem terra onde nós iremos?”

Para a vice-cacica, o atual governo brasileiro é contrário aos indígenas, bem como muitos fazendeiros, garimpeiros, madeireiros e donos do agronegócio e é a eles que interessa a não demarcação das terras dos povos indígenas. Ela explica: “Demarcar terra indígena é proteger a vida. Quando a terra indígena é demarcada, o meio ambiente e a vida daquele ambiente são protegidos pelo povo indígena, mas quando ela não é demarcada a exploração predomina. O que eles querem é legalizar uma ilegalidade para que a terra indígena seja explorada,” denunciou a líder indígena.

Durante duas semanas cerca de 2 mil indígenas de diversos estados brasileiros acamparam em Brasília, a fim de protestar contra o marco temporal e conscientizar a sociedade da importância de proteger os povos originários do Brasil. Segundo Neusa, há atualmente no Brasil mais de 370 etnias diferentes, que precisam ser tratadas de acordo com suas especificidades. Os líderes indígenas acreditam que ao criar o marco temporal, o governo quer exterminar os povos indígenas.

Comunidade indígena sofre ameaças de morte em Paraty, no Rio de Janeiro

Sobre a terra indígena Tekohá DjE’y, em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, Neusa denunciou que a comunidade vem sofrendo muitas ameaças de moradores que são madeireiros, garimpeiros, posseiros, do local. O território onde vivem os indígenas abrange uma área de 2370 hectares, que vem sendo alvo da especulação imobiliária e com influência do governo municipal, que é contrário à demarcação das terras.

Além das ameaças de morte, há também, segundo a denúncia, forte disseminação de preconceito racial, nas redes sociais e nas ruas. A própria Neusa disse que foi jurada de morte recentemente e que no ano de 2018 o irmão dela foi assassinado, após receber constantes ameaças.

Mesmo com tanta violência Neusa garante que não tem medo: “Em nenhum momento eu sinto medo. Eu me sinto preparada para essa luta, para defender meu povo, minha família e mostrar para a sociedade que as mulheres também têm força,” destacou.

Neusa finalizou a entrevista fazendo um apelo à sociedade: “A gente precisa que as pessoas não tenham mais medo. A população precisa vir para rua gritar conosco e dizer não ao marco temporal, porque essa luta não é apenas dos povos indígenas! A gente está falando de vida. A gente está lutando para ter terra para plantar, para preservar as águas e a natureza. A gente precisa do apoio de toda sociedade, que venha para a rua e diga não. Proteja seus povos originários. A casa dos povos indígenas é o Brasil e é preciso respeitar os donos da casa: os povos indígenas,” conclamou emocionada.

Assista a entrevista na íntegra

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