Escrito por Erlie Lopez/Fotografia de Orlando V Sionosa Jr.

A Semana Santa que terminou no início de abril em toda a cristandade fala muito sobre os filipinos. Ainda que o aumento nos casos de covid-19 no país demandasse restrições rigorosas às aglomerações em massa, ela mergulha a maior parte do país em piedade pública e cultura popular, acalma as fagulhas habituais e até muda corações. Do Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa (Semana Santa, para muitos), a semana traz almas cansadas das casas e escritórios para as igrejas, moradores estressados ​​da cidade para suas pacatas vilas natais e o tempo atual de volta há dois milênios em Jerusalém. Diferente da outra grande época cristã – o Natal – em seu clima reverente e reflexivo, este, porém, não é menor na trama da cultura e cor nativas para celebrar a fé do povo.

Uma variedade de atividades religiosas é observada não apenas em igrejas, mas em praças, ruas, bairros, pontos de peregrinação e locais comerciais. Algumas foram transmitidas de tribos pré-coloniais, de colonizadores espanhóis que trouxeram o Cristianismo cinco séculos atrás, e da sede do catolicismo no Vaticano, praticado por 80% da população (cerca de 80 milhões).

Destaques da celebração semanal:

Bênção de Palaspas no Domingo de Ramos

Os palaspas, ramos da palmeira nativa, simulando o que os israelitas usaram para dar as boas-vindas a Jesus Cristo em sua cidade, são agitados por fiéis filipinos nas igrejas para invocar a bênção do sacerdote, e, posteriormente, colocados na porta de casa ou no altar.

Pabasa

Principalmente mulheres mais velhas, manangs, como são chamadas essas religiosas, reúnem-se em uma casa durante o dia todo, mesmo à noite, para cantar a história bíblica de Jesus na língua nativa. A melodia e sua cadência permaneceram as mesmas por anos, assim como os patronos que fizeram disso um voto (panata).

Penitensya

Um evento de rua onde alguns homens sem camisa são açoitados por um pequeno chicote de madeira enquanto desfilam pela vizinhança sob o calor escaldante. Com as costas nuas sangrando, eles são então amarrados ou até mesmo pregados a uma cruz, suas próprias expiações no Calvário por seus pecados.

Senakulo

Um teatro doméstico sobre a paixão de Cristo – cobrindo seu julgamento, sofrimento e morte – com luzes noturnas e estrondos para dramatizar as cenas e falas. Realizado em um grande espaço aberto como uma praça.

Missa da Última Ceia (Quinta-feira Santa)

Inclui uma cerimônia de lava-pés feita pelo sacerdote para homens sentados na primeira fila, simulando o gesto humilde de Cristo para seus apóstolos.

Visita Iglesia

Famílias e grupos de amigos visitam sete igrejas após a missa vespertina da Última Ceia, que se estende até a menos lotada Sexta-Feira Santa.

SietePalabras (na Sexta-Feira Santa)

Uma cerimônia do meio-dia às 15h em grandes igrejas católicas, focada nas sete últimas palavras do Cristo crucificado. Paroquianos e personalidades selecionados compartilham uma história de vida relacionada à Palavra atribuída, intercalados por uma mensagem do padre e números de músicas.

Salubong (no Domingo de Páscoa)

Cerimônia de madrugada onde duas procissões convergem a um ponto de um lugar público. Supõe-se que um grupo seja liderado pelo Cristo ressuscitado, o outro por sua triste mãe Maria. Um anjo e Verônica com o rosto ensanguentado de Jesus impresso em um pano completam o alegre encontro. A música Regina Coeli (Rainha do Céu) acrescenta à solenidade. Missas de Páscoa seguem ao longo do dia.

Certamente, a tradição centenária da Semana Santa nas Filipinas perdurará como o Cristianismo perdurou integralmente por 500 anos, um marco a ser celebrado por um ano a partir de seu lançamento oficial neste Domingo de Páscoa, anunciado nada menos por uma missa especial oficiada pelo Papa Francisco em meados de março. Uma ironia bem-vinda é que a celebração virtual deste ano pandêmico (segunda Semana Santa “cancelada” durante os 13 meses, mas em situação pior de infecção) não extinguiu a tradicional celebração pública. Em vez disso, afirmou ainda mais a fé e sustentou a piedade já que os filipinos, trancados em suas casas, uniram-se à cristandade nas orações, missas, reflexões e documentários realizados diretamente nas telas de suas TVs, computadores e telefones celulares durante a maior parte da semana.


Traduzido do inglês para o português por João Paulo Coelho e Castro /  Revisado por Larissa Dufner