MÚSICA

 

 

Por Renan Simões

 

 

Reflexões do tipo “o que poderia ter sido” nos acompanham em todos os campos da vida. Em música, vez ou outra, conjecturo sobre diversas questões. O que os Beatles teriam produzido nos anos 70, se ainda juntos? Como Elliott Smith e Jeff Buckley teriam se desenrolado ao longo do século XXI, se estivessem vivos? Como a música popular brasileira teria se desenvolvido entre os anos 80 e os dias de hoje, se os holofotes da grande mídia permitissem diversidade? Que outras matizes teriam as canções brasileiras se os afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes tivessem sido realmente levados a sério ao longo dos anos?

Bem recentemente, passei por uma das experiências mais estranhas da minha vida. Conheci a música de Lindsheaven Virtual Plaza através do selo Vaporwave Tapes Brasil, via Bandcamp. Em meio a inúmeros lançamentos e artistas, me identifiquei especialmente com sua música, de construções muito sensíveis e inspiradas; cada sonoridade, um alento para a alma.

 

 

O vaporwave é um gênero de música eletrônica que lida com o passado (a memória?) de uma forma bem particular, nostálgica e surreal, e com forte crítica à superficialidade humana. Embora com estéticas sonoras e visuais centrais, definidas por alguns de seus lançamentos mais famosos, o vaporwave se hibridiza e se perde em meio a tantos outros gêneros e subgêneros desse nosso universo da pós-internet.

Conferi todos os lançamentos de Lindsheaven Virtual Plaza em sua página no Bandcamp, uma obra de versatilidade, qualidade e sinceridade admiráveis. Gostei, tão especialmente, de dois álbuns, que os incluí na lista dos meus melhores discos da música brasileira. Até aí, para mim, Lindsheaven Virtual Plaza era um ser anônimo do Rio de Janeiro, com quem eu gostaria muito de trocar uma ideia sobre sua música.

Lindsheaven ficaria feliz ao saber que incluí dois de seus álbuns em minha lista pessoal? O que haveria por trás da sua música? O que gostaria de transmitir? Suas ideias sobre sua própria música comungariam com as minhas? Que conversas poderíamos ter sobre a música e sobre a vida?

No dia 18 de abril de 2021, um domingo de noite, recebo a notícia de que Lindsheaven havia falecido três dias antes. Busquei informações e descobri que ele foi mais uma vítima do Covid-19. Lindsheaven era Cesar Alexandre. Não há fotos suas disponíveis em seu perfil. O que Cesar Alexandre teria produzido se ficasse aqui por mais um tempo? Cesar, esteja em paz, e continue com essa música inspiradora, onde quer que você esteja.

Muito obrigado!