MÚSICA

 

 

Por Renan Simões

 

 

Esta breve lista de indicações, para audição e reflexão, é constituída por cinco faixas que exemplificam a expansão de elementos convencionais na música popular. Essas expansões, quando replicadas de forma continuada, podem alicerçar novas convenções musicais. Neste ciclo de transformações e rupturas com o convencional, as expansões podem inclusive abarcar retornos a convenções anteriores, bem como novos diálogos entre convenções existentes.

My old man (1971), de Joni Mitchell, é uma canção que, embora fundamentada por elementos musicais convencionais, apresenta diferentes e geniais trajetórias harmônicas e melódicas.

 

Acostumados que estamos às formas mais tradicionais de canção, corremos o risco de desconsiderar/estranhar toda uma infinidade de transformações que estas possam sofrer. E quando o refrão é dispensável? E quando não é necessário utilizar muitas palavras? E quando o protagonismo instrumental é tão ou mais importante que a própria letra da música na transmissão de uma mensagem? É disso que trata Choveu (1977), de Beto Guedes e Ronaldo Bastos.

 

 

Para além dos formatos de canção, as possibilidades musicais crescem exponencialmente. Chegamos inclusive a formas musicais – e gêneros inteiros – que evidenciam certos elementos outrora secundários. Na música eletrônica, por exemplo, podemos observar breves progressões harmônicas, células rítmicas e samples de músicas existentes como grandes protagonistas do discurso musical, como em Xtal (1992), de Aphex Twin.

 

O convencional pode também ser expandido pelo diálogo entre diversos universos sonoros já consolidados, como Rahul dev Burman na música tema de Shalimar (1975), uma mescla de trilha sonora de ação/suspense com música indiana, jazz, percussão afro-latina e escalas orientais.

 

 

Por fim, há os gêneros musicais, que não são estanques, pois transformam-se conforme as necessidades impostas pelo mercado e/ou criatividade dos artistas. Um exemplo dessa expansão para além do convencional de um gênero é Você abusou (1971), samba de Antonio Carlos e Jocafi que, embora na linha de muitos sambas-canções introspectivos, propuseram inovações dignas de nota quanto a arranjo e linhas melódicas.