MÚSICA

 

 

Por Renan Simões

 

 

Ouvimos o que nos impuseram? Ou por estar na moda? Queremos ser parte de algo através do que ouvimos? Ou, pelo contrário, queremos ouvir o que ninguém conhece? Somos ouvintes esnobes? Ouvimos para nos aproximar das pessoas, ou para nos distanciar das pessoas? Pesquisamos novas coisas para ouvir? Sabemos pesquisar música? Devemos? Queremos?

Aos 6 anos de idade, levei alguns discos do meu pai para a escola, a fim de mostrar para os colegas. No entanto, me dei conta que eles só conheciam as músicas que passavam na televisão, achavam o máximo, e não tinham o menor interesse por nada além daquilo. Esse momento foi um grande divisor de águas para mim: mesmo sem muitas condições de reflexão na época, compreendi, de certa forma, que a grande mídia musical escraviza as pessoas sem que percebam; e além disso, as faz renegar todo o “resto” – que corresponde à quase totalidade do que é produzido em música.

Ouvimos música para sentir-nos inseridos na sociedade como um todo, na família, em um grupo de amigos, no meio acadêmico, entre os pares de profissão. Queremos ser parte de algo através do que ouvimos. A negação disso, por sua vez, pode gerar outra postura alienante: uma total aversão ao que parece nos integrar a algo do nosso dia-a-dia, e uma total paixão pelo que foge a essa regra.

Quando escolhemos ouvir o que ninguém conhece, corremos o risco de valorizar músicas pelo simples fato de ninguém ou quase ninguém do nosso círculo conhecê-las, por ser algo verdadeiramente underground, outsider, o ponto fora da curva. Quando isso acontece, estamos nos prendendo a um conceito e deixando de efetivamente problematizar sobre o que estamos ouvindo: será que realmente gostamos? Ou é apenas uma infundada atitude esnobe perante os outros e nós mesmos? Podemos estar escravizando nossas preferências musicais da mesma forma que a maior parcela da sociedade encontra-se escravizada à música da grande mídia.

Enveredar na pesquisa de novas músicas é uma necessidade espiritual para quem almeja se descobrir através da arte dos sons. A sociedade não nos fomenta isso (pelo contrário, nos desencoraja) e quase nunca temos espaço mental e energia para sermos desbravadores musicais. Triste.