Tomás tinha 3 anos e sorria para a vida quando saiu de casa acompanhado do tio-avô. Ia com a confiança e a alegria de uma criança saudável e feliz que encontra, a cada passo, uma nova descoberta, uma nova experiência. Foi seu último passeio: ele foi encontrado morto, no meio do campo, com sinais de abuso, nove dias depois. Nesse período, a busca foi intensa por terra e ar enquanto todo o Chile clamava por seu aparecimento. Não há palavras para descrever tamanha atrocidade contra crianças em qualquer lugar do planeta. A extrema crueldade implícita no abuso sexual, tortura e impunidade que envolve estes crimes contra crianças é, em geral, garantida por um sistema de proteção ineficiente e desatualizado, enquadrado na crença absurda de que esse importante segmento goza da maior proteção no lar, escola, igreja ou bairro.

Assim como Tomás saiu de casa e nunca mais voltou, milhares de crianças e adolescentes, em todo o mundo, são violados física e psicologicamente pelo simples fato de estarem sob a autoridade de outrem, sem nenhum mecanismo de defesa. Na maioria dos países centro-americanos, especialmente aqueles governados por políticos corruptos, em cumplicidade com organizações dedicadas ao negócio do tráfico de pessoas, centenas deles desaparecem. Sem alterar o sono das autoridades, nem o sono das sociedades acostumadas à tragédia e à violência causadas por um sistema que destruiu completamente a institucionalidade, deixando a população em um ambiente de caos absoluto e anarquia.

A violência sexual, patologia social de enorme impacto em nossas sociedades, é consentida, direta ou indiretamente, pela ineficácia dos sistemas de administração da justiça, mas, sobretudo, pelo sistema patriarcal. Esse sistema, mesmo com evidências claras, minimiza os abusos e concede privilégios aos perpetradores, principalmente quando esses crimes são cometidos contra adolescentes e mulheres adultas. Casos extremos como o de Tomás, o menino de Lebu, multiplicam-se, protegidos pelo silêncio e cumplicidade de quem os rodeia, sob o lema da manutenção da reputação da família, mesmo que o crime cometido destrua totalmente a vida e o futuro da vítima.

Está provada e comprovada nossa incapacidade, como sociedade, de proteger as novas gerações da violência em qualquer de suas formas. Preferimos nos iludir recorrendo a instituições corruptas às quais entregamos centenas ou milhares de vítimas expiatórias, como no caso de “lares seguros” em que uma criança que merece proteção é institucionalizada, mas que são locais administrados por criminosos dedicados ao tráfico e prostituição de menores.

O fracasso de um país se mede pelo tratamento dispensado às crianças e, portanto, devemos nos declarar fracassados em nível planetário. Não há canto do mundo onde crianças e adolescentes gozem de proteção total contra abusos. Esses abusos, na maioria das vezes, têm um impacto certeiro nas diversas patologias que esses seres sofrem ao longo de suas vidas e, com frequência, depois chegam a reproduzir os efeitos de suas experiências em outras vítimas. Criamos uma verdadeira cultura de abuso, fomentada pelo desamparo de alguns diante da aparente autoridade de outros. Assim, mesmo no século das maravilhas tecnológicas, os preconceitos sexistas e as estruturas de privilégio para os agressores permanecem, destruindo, assim, o futuro dos mais indefesos.


 

Traduzido do espanhol por Mércia Santos / Revisado por Graça Pinheiro