Manifestando-se contra a cultura da violência
Escrito por Kristina Hadzi-Vasileva
Centenas de pessoas foram às ruas de Skopje em 3 de fevereiro para protestar a falha cometida pelas autoridades ao agir contra predadores sexuais que utilizam redes online como facilitadora do intercâmbio da pornografia de vingança, ou revenge porn, assim como da apropriação dos dados privados de mulheres para assédio online. Algumas dessas pessoas também são suspeitas de disseminar pornografia infantil, além de outros tipos de comportamentos criminosos da Macedônia do Norte.
Em 27 de janeiro de 2021, Ana Koleva, uma jovem de Kavadarci, pequena cidade no sul do país, publicou um vídeo no Instagram sobre sua experiência. No vídeo, ela explica como sua foto foi roubada de sua conta do Instagram e compartilhada no Telegram em um grupo de predadores sexuais, além de seu número de telefone e outras informações pessoais.
A insatisfação pública explodiu no aniversário da revelação de um escândalo envolvendo um grupo de Telegram chamado Javna Soba (Sala Pública), uma alusão ao termo “casa de tolerância”, sinônimo de bordel. A ideia de que tais grupos ainda estejam operando livremente um ano após sua criação tornar-se bem conhecida ocasionou uma revolta pública que culminou no protesto de 3 de fevereiro, o qual foi organizado por 16 organizações de direitos das mulheres, grupos de direitos humanos e inúmeros ativistas.
Os manifestantes condenam a impunidade ao comportamento criminoso, incluindo a violência contra a mulher, independente de ser online ou offline. Eles marcharam pelas ruas centrais de Skopje carregando o cartaz “Sala Pública é Crime,” caminhando do Ministério do Interior (MOI) ao principal escritório de promotoria pública, sendo essas as duas instituições responsáveis por lidar com casos de cibercrime. De acordo com os procedimentos legais, quando um crime como esse é reportado, o Ministério do Interior encaminha o pedido ao promotor, que ordena a polícia a iniciar uma investigação e desenvolver o caso.
Os manifestantes emitiram as seguintes demandas:
Exigimos que o Escritório de Promotoria Pública resolva o caso da Sala Pública minuciosamente e sem atraso. Esse caso representa uma ato criminal que possibilita a violência baseada em gêneros, contra um grande número de mulheres.
Reivindicamos sanções apropriadas contra o administradores dos grupos [de Telegram], bem como para todos os membros que tenham compartilhado e continuam a compartilhar fotografias e dados pessoais de meninas e mulheres.
Demandamos e insistimos para que haja uma regularização no Código Criminal para assédio sexual online.
Requeremos providências apropriadas aos casos das vítimas por parte de instituições estatais competentes.
“Você não é a culpada” cartaz direcionado às mulheres vítimas de abuso sexual. Foto por Vančo Džambaski, CC BY-NC-SA.
O Telegram fechou a Sala Pública em 28 de janeiro, com a notificação de que “esse grupo não pode ser exibido por ser usado para divulgar conteúdo pornográfico”.
Agradecendo a atitude tomada pelo Telegram, o ministro do interior Oliver Spasovski advertiu que outro grupo similar estava operando na plataforma e a polícia tomaria medidas contra esses membros também.
A coragem de Ana Koleva obteve atenção das mídias de massa , além das autoridades. O Ministério da Justiça teve uma reunião com ela e anunciou que assédio seria incluso no código criminal como crime grave, visando a proteção contra a violência baseada em gêneros.